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Foto Helene Santos/Arquivo DN |
“Trocaria todo salário do mundo para que meu filho não fosse autista e não ter que conviver com o preconceito”. Esse é o relato de Roniele Lima, 35, mãe de Lorenzo Levi, 7 anos. O menino é um das 66 mil pessoas, entre crianças e adolescentes, com diagnóstico de autismo no Ceará e, assim como muitos outros, enfrentam junto às suas famílias desafios relacionados à assistência e à dignidade.
Quando uma família recebe o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA), inicia ali a luta pelo desenvolvimento e por questões como enfrentamento ao preconceito, bullying, apoio na saúde e educação.
O Ceará tem 126,5 mil pessoas autistas e 52,78% desse total são justamente pessoas menores de 18 anos, ou seja, crianças e adolescentes. Em termos percentuais, o Estado tem a terceira maior porcentagem (1,4%) do país, atrás do Acre (1,6%) e do Amapá (1,5%).
Os dados foram apresentados pelo Censo Demográfico do IBGE de 2022, divulgado na última sexta-feira (22). Foi a primeira vez que o recenseamento acrescentou um tópico sobre laudo de TEA.
A inclusão do quesito sobre a presença dos dados relacionados ao autismo no Censo Demográfico foi determinada pela Lei n.º 13.861, de 18.07.2019, que alterou a Lei n.º 7.853, de 24.10.1989, para “incluir as especificidades inerentes ao transtorno do espectro autista – TEA, nos censos demográficos”. O TEA, conforme definição da OMS, é caracterizado por:“déficits persistentes na habilidade de iniciar e manter interações sociais e comunicação social recíprocas, e por uma gama de padrões de comportamento, interesses ou atividades restritos, repetitivos e inflexíveis, que são claramente atípicos ou excessivos para a idade e o contexto sociocultural do indivíduo”.
E esses dados refletem pessoas como Lorenzo, que está na faixa etária da estatística como maior número absoluto. São 23.486 crianças de 5 a 9 anos diagnosticadas com TEA, frente às 17.790 de 0 a 4 anos com o mesmo diagnóstico.
Políticas Públicas
A divulgação dos dados do Censo atualizam o cenário do TEA no Ceará e ajuda a garantir políticas públicas de inclusão. Para a neuropediatra Raquel Diógenes, é preciso alinhar essas informações com a capacitação de profissionais e combate ao preconceito.
“Com esses números, fica mais difícil de simplesmente ignorar essa população, como às vezes acabava sendo feito. Isso traz mais argumentos e recursos para que nós, profissionais, possamos cobrar por políticas públicas de inclusão”, reitera.
A população com TEA no Ceará é amparada pelo Estatuto da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, sancionado pelo governador Elmano de Freitas através da Lei n.º 18.642. O documento garante, promove e protege os diretos e liberdades das pessoas autistas no Estado.
Em nota enviada ao Diário do Nordeste, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informa que, na rede pública estadual, há oito policlínicas regionais equipadas com Centro Especializado em Reabilitação (CER). Esses equipamentos são pontos de atenção especializada em reabilitação intelectual habilitadas pelo Ministério da Saúde.
Somado a isso, dois hospitais de alta complexidade possuem serviço multidisciplinar de atendimento a crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O acesso aos serviços se dá por meio de encaminhamentos da Central de Regulação do Estado, diz a nota.
Já na rede hospitalar, o Núcleo de Atenção à Infância e Adolescência (Naia) do Hospital de Saúde Mental (HSM) atende cerca de 80 crianças e adolescentes, entre quatro e dezesseis anos, diagnosticados com TEA. O equipamento é composto por equipes multiprofissionais, formada por psiquiatras, psicólogos, residentes em Psiquiatria, assistente social e pediatra.
Neste mês de abril, o Governo do Estado lançou o programa Ceará TEAcolhe, que oferece atendimento psicossocial para cuidadores de pessoas autistas, encaminhamentos à rede socioassistencial do Estado e garante acesso à medicação com prescrição médica.
Segundo o Censo, só em Fortaleza, são 43.615 pessoas diagnosticadas com TEA, sendo 18.234 crianças e adolescentes. A cidade é a que apresenta o maior número absoluto, seguida de Caucaia (5.625) e Juazeiro do Norte (4.049).
No caso de crianças de até três anos, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza destaca que os postos de saúde podem identificar, precocemente, os sinais de alerta para transtornos no desenvolvimento. Além disso, outros dois espaços da capital são voltados para esse público:
Com informações do Diário do Nordeste.