segunda-feira, 15 de junho de 2020

Número de pacientes atendidos em casa dobra no Ceará após pandemia

Foto Fabiane de Paula/Diário do Nordeste
 Há três anos, o hospital de José dos Santos, 73, é o próprio lar. Foi assim em pelo menos três momentos: para vencer uma pneumonia, depois uma falha no funcionamento do fígado, e agora a Covid-19. O ex-motorista de ônibus estava em Quixadá, a cerca de 167 Km de Fortaleza, quando precisou interromper o trajeto que fazia, devido à insuficiência cardíaca. Hoje, a família, sentinela, observa o idoso diariamente no bairro Messejana, onde ele mora, em Fortaleza, e recebe o auxílio de todo o aparato médico disponibilizado pelo Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD).


O ex-motorista de ônibus já usufrui do serviço prestado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) há pelo menos três anos, mas um número expressivo de cearenses só passou a depender da assistência domiciliar nos últimos meses, com a crescente de casos da Covid-19. Em janeiro deste ano, antes da disseminação massiva do novo coronavírus no Estado, 656 pessoas eram atendidas em casa pelo SAD, com acompanhamento realizado por técnicos contratados. Após a pandemia, o número mais do que dobrou: já são 1.389 pacientes com internação domiciliar em todo o território cearense.

“Se não fosse o respirador, acho que o pai não ia aguentar. Os médicos vieram aqui duas vezes, fizeram exame, constaram febre, falta de ar, e medicaram bem, mesmo ele dizendo que não ia suportar. Nós cuidamos dele com 100% de dedicação, eu e a mãe, e ele se recuperou, está curado. Os médicos vieram aqui e fizeram o teste de novo”, explica a vendedora Socorro dos Santos, filha de José dos Santos.

Rede

O crescimento superior a 100% foi puxado, segundo a Sesa, por efeito da demanda de um grupo específico: os idosos que vivem em abrigos. Uma nova equipe, formada por dois médicos, dois enfermeiros e um assistente social, está atendendo 690 idosos de 19 abrigos de Fortaleza, durante o período da pandemia. A atividade contempla visitas e orientações sobre prevenção e cuidados a partir de sintomas da doença, bem como a regulação, caso seja necessária a internação em hospitais.

Além das centenas de idosos, são atendidos nos respectivos domicílios outros 699 pacientes, por equipes de seis unidades da rede pública do Governo Estadual: os Hospitais Geral Waldemar Alcântara (HGWA), do Coração de Messejana (HM), São José de Doenças Infecciosas (HSJ), Geral Dr. César Cals (HGCC), de Saúde Mental de Messejana (HSM) e Infantil Albert Sabin (HIAS), todos localizados em Fortaleza.

De acordo com a Sesa, o SAD visa diminuir riscos de infecção dos pacientes e dar continuidade ao tratamento de forma humanizada, além de reduzir os custos hospitalares. Além disso, o serviço “reflete na otimização da permanência e ocupação dos leitos” públicos, uma vez que “evita internações prolongadas”.

Essas variáveis, aliás, se tornam ainda mais estratégicas e estão em constante observação por parte das autoridades sanitárias estaduais, uma vez que a nova infecção viral tem sobrecarregado as unidades de saúde e causado a saturação de leitos. O tempo médio de hospitalização de pacientes com Covid-19 no Ceará, conforme boletim epidemiológico da Sesa emitido neste mês, é de 7,8 dias. Nos com óbitos, as vítimas morrem, em média, 6,5 dias após o início dos sintomas.

Com a pandemia, o serviço de atendimento domiciliar está atuando a partir de um plano de contingência, reduzindo as visitas domiciliares presenciais e realizando monitoramento via telefone, bem como garantindo orientações e treinamentos das famílias em isolamento social para diagnóstico e tratamento da Covid-19. Segundo a Sesa, visitas e testagens são feitas em domicílio “sempre que possível”.

Conforme a médica Ursula Wille Campos, diretora do SAD no Hospital Waldemar de Alcântara, dos 210 pacientes atendidos em domicílio pela unidade, 94 foram testados e 81 tiveram diagnóstico confirmado para a Covid-19. “Todos os pacientes do SAD são portadores de doenças crônicas, incapacitantes ou em recuperação. A maioria tem doença neurológica, como sequela de AVC, Demência ou Doenças neuromusculares”, enumera.

Custos

Além de otimizar a ocupação de vagas de internação e de garantir maior humanização nos tratamentos, o atendimento em casa repercute também nos recursos públicos destinados à saúde. Segundo Ursula, se esses pacientes estivessem em leitos hospitalares, “o custo seria quase dez vezes maior”, já que os cuidados são complexos, exigindo, geralmente o uso de ventilação mecânica ou oxigenoterapia, por exemplo.

“A população idosa está crescendo e, assim, cresce também a população doente. Com o SAD, podemos garantir uma sobrevida maior. As pessoas vivem mais, mesmo com doença crônica, só precisam de assistência médica para prevenir e voltar para casa. E esse é o nosso foco, dar tratamento adequado para o paciente ficar com a família, porque o hospital é um risco”, avalia a médica.

No contexto da atenção prestada pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Fortaleza, os atendimentos domiciliares são feitos a cargo de agentes da Estratégia Saúde da Família (ESF) e do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), nos postos de saúde.

A Pasta informou, em nota, que durante a pandemia os profissionais estão “auxiliando no acolhimento dos pacientes com suspeita de Covid-19 e também realizando atendimentos remotos”. Ainda conforme a SMS, até o momento, cerca de 1,3 mil pacientes foram monitorados à distância por meio de ligações telefônicas realizadas pelos técnicos. As visitas domiciliares continuam sendo realizadas pelas ESF e por agentes comunitários, com prioridade para pacientes do grupo de risco da doença viral.

A Pasta afirma ainda que mais de 21 mil visitas foram realizadas por agentes comunitários de saúde durante o período de isolamento social. Nesse intervalo, 4,5 mil pessoas foram diagnosticadas com casos leves e 566 com moderados ou graves.

Com informações do Diário do Nordeste.