quarta-feira, 24 de junho de 2020

Gêmeos fotógrafos cearenses separados desde o nascimento se reencontram virtualmente após 23 anos

Em junho de 1997, a cearense Liduina deu à luz os filhos gêmeos que não tinha condições de criar. Moradores da comunidade do bairro Padre Andrade, na periferia de Fortaleza, ela e o companheiro, pai dos dois meninos idênticos, tomaram então a difícil decisão de separar as crianças poucos dias após o nascimento, em 25 de junho.

Adotados por famílias diferentes, uma na capital cearense, e outra em Uberaba (MG), Tomaz Maranhão e Gabriel Ferreira ficaram sem notícias um do outro durante mais de duas décadas, reencontrando-se, virtualmente, somente neste mês de junho, 23 anos depois.

A pista principal para unir os irmãos nesta fase adulta, em que, coincidentemente, ambos atuam como fotógrafos, foi uma fotografia. Aos 16 anos, Tomaz, adotado por Socorro Maranhão, foi apresentado a sua mãe biológica, e dela ganhou este rastro.

“Nos encontramos na minha casa. Foi bem forte pra mim, pois foi a primeira vez que eu vi alguém tão parecido comigo. Ganhei dela dois presentes: o nome e a foto do aniversário de um ano do meu irmão, que ela recebeu da pessoa que o levou. Ela foi muito importante nessa busca, por me dar nome e rosto de quem estava com ele”, lembra o cearense, que trabalha como assessor da coordenação geral do Museu da Fotografia Fortaleza.

Buscas

Ao longo dos anos, inúmeras foram as vezes que Tomaz utilizou as redes sociais para procurar o irmão, mas em nenhuma teve sucesso. Até que no dia 1º de junho de 2020, ele teve um “insight”: atrás da fotografia que havia ganho de Liduina, havia o nome da mãe adotiva de Gabriel. E foi por este dado que ele resolveu reiniciar as buscas no Facebook. Em menos de 30 minutos, localizou o perfil de Vanda, após filtrar por cidade e identificação nominal.

“Meu coração parecia saltar do peito, eu suava, até que vendo as fotos dessa senhora, me encontrei, me vi numa imagem com um senhor, do lado de um fusca. Eu entrei em pânico, pois não acreditava que aquilo estava acontecendo e que eu era tão parecido com ele. E ele comigo”, relata Tomaz. O contato com a família adotiva do irmão se deu por intermédio de uma policial civil, Nivia, que falou com Vanda antes dele.

Gabriel, por sua vez, que não tinha nenhuma pista do irmão até esta data, ficou sabendo que ele o havia encontrado por meio de uma ligação da mãe adotiva durante o expediente. “Para mim, foi um grande choque, tive que me sentar e parar para raciocinar o que estava acontecendo. Minha cabeça ficou a um milhão e eu não conseguia acreditar nisso. Entrei em contato com ele pelo Facebook, e fomos para o WhatsApp”, relata.

Reencontro virtual

A primeira chamada de vídeo dos gêmeos foi no intervalo do trabalho de Gabriel. “Não sabíamos o que fazer nem o que falar um para o outro. Ficamos chocados com a nossa semelhança e confesso que estava um pouco assustado com ela. Mas foi um misto de sentimentos tão grande que eu me sentia anestesiado e com uma paz interior, um alívio enorme, e surpreso por ter acontecido tão cedo”, partilha.

De lá para cá, o contato entre os dois se intensificou. Os gêmeos têm passado várias horas da madrugada conversando, quase todos os dias. Já tiraram de 21h30 às 9h só se atualizando de tudo que a distância os privou nesses anos todos.

A paixão comum pela fotografia, então, foi uma das melhores descobertas. “Meu choque foi maior quando vi a foto dele vestido com roupa social e câmera pendurada no pescoço. Não acreditei, e me choco até hoje. Foi ali que realmente vi que a fotografia não estava à toa na minha vida”, detalha Tomaz.

Trabalhar com a imagem foi um escape de uma época complicada da vida de Gabriel, na qual surgiram vários questionamentos sobre sua existência, além de alguns problemas financeiros. Nesse período, ele chegou a desenvolver uma marca própria para trabalhar em eventos, casamentos e fotografia de casais. Mas hoje traz mais isso como um hobbie, enquanto concilia um emprego numa farmácia e alguns cursos na área automotiva. Já Tomaz, iniciou seu percurso fotográfico quando estava no Ensino Médio, e desde então fez disso seu objetivo profissional.

Esperança

O reencontro dos dois com a mãe biológica, Liduina, por videochamada, também já aconteceu. “Fiquei muito feliz em poder estar vendo quem me gerou e conhecer a minha raiz. Pedi que ela sentisse paz em seu coração, pois o ato de nos entregar para a adoção foi heróico, e mostrou que realmente queria nos ver bem e com saúde, como o sentimento de qualquer mãe que ama seus filhos”, reconhece Gabriel.

Agora, os irmãos acalentam o sonho do abraço presencial, que ainda não foi possível devido ao contexto de pandemia do novo coronavírus. “A minha vida inteira senti falta de mim mesmo, era um sentimento de perda. O achado do Gabriel me deu um novo ar de vida. Me fez ver que mesmo diante de toda situação crítica e triste que nos encontramos, há esperança. Nosso maior sonho agora é sentir o poder do nosso abraço. Poder materializar o nosso encontro. Sentir nossos corações que foram gerados juntinhos, mas que por situações da vida foram separados”, aspira Tomaz.

Em meio a esta crise humanitária, Gabriel acredita que o irmão o ajudou a tornar esse ano o melhor de toda a vida. “Este aniversário será inesquecível para mim, pois foi o maior e melhor presente que eu poderia receber”, conclui.

Com informações do G1 Ceará.