A comitiva liderada pelo deputado federal e também presidente da Liga Parlamentar Brasil-Japão, Luiz Nishimori (PR-PR), deveria ser recebida pelo lado japonês presidido pelo ministro das Finanças, Taro Aso. No entanto, o político japonês estava comprometido com os trabalhos do Comitê de Orçamento da Câmara.
A programação da segunda-feira (26),esteve concentrada em Tóquio. O presidenciável, acompanhado de seus três filhos políticos e outros dois deputados federais, foi recebido de manhã pelo vice-ministro da Educação, Kazuo Todani.
A audiência foi realizada depois da explicação dada por técnicos sobre o sistema de ensino japonês e se prolongou além do previsto. "Eu vi que aqui não existe a ideologia na escola, nem a questão da formação de militância, que é muito forte no Brasil", disse Bolsonaro.
Em vários momentos da passagem pelo Japão, ele falou sobre o que seria o tripé do seu possível governo enxuto, com cerca de 15 ministérios. "Na economia já temos o professor Paulo Guedes. Na defesa está pré-acertado o nome de uma pessoa, e na educação procuramos alguém que consiga entrar no ministério, dar uma guinada, abandonar aquela filosofia do Paulo Freire e voltar para a seriedade da questão educacional no Brasil", disse.
O escolhido poderia ser um militar ou um civil, e de qualquer gênero. "Queremos uma pessoa com autoridade, que consiga fazer que no Pisa (ranking internacional de avaliação de alunos), por exemplo, a gente suba no mínimo dez posições em uma década", acrescentou. Segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico de 2017, o Brasil ficou na penúltima posição entre 36 países. O Japão aparece em segundo, atrás da Finlândia.
A inovação é outro tema que motivou Bolsonaro a fazer o giro pela Ásia. Na tarde da segunda-feira, a comitiva visitou a empresa de tecnologia NEC Innovation World e teve reunião a portas fechadas com lideranças da Keidanren, a federação da indústria do Japão, a quem o deputado falou sobre o cenário econômico.
"Depois de 30 anos de esquerda, a direita ressurge, com grandes parcerias. Muito do que temos lá, não tem no Japão e vice-versa. Em 2019, faremos um grande casamento", disse ele a um grupo de empresários reunidos em outro evento.
VIOLÊNCIA E CORRUPÇÃO
A missão terminou em uma churrascaria brasileira de Tóquio. Como ocorreu nos encontros com a comunidade em Hamamatsu (260 km a sudoeste de Tóquio) e Oizumi (90 km a noroeste de Tóquio), Bolsonaro precisou deixar a comida de lado para atender pedidos de fotos e responder perguntas.
O jantar foi organizado por empresários locais e reuniu 95 convidados que desembolsaram 5.000 ienes (cerca de R$ 151) pelo bufê completo e mais três drinques. O brasileiro Ryuichi Goto aproveitou a reunião para divulgar um colete salva-vidas para motoboys inventado por um amigo japonês, e conseguiu convencer o deputado a fazer demonstração do produto.
"Vendemos para 25 países. No período de 12 anos chegamos a exportar 3.000 unidades também para o Brasil, mas aí nos deparamos com a falta de seriedade do país e desistimos", diz Goto.
Pelas cidades por onde passou, Bolsonaro ouviu muitos lamentos sobre a situação do Brasil e foi diversas vezes abordado com perguntas sobre violência e impostos. São esses temas que desestimulam muitos dos 180 mil brasileiros exilados no Japão a retornarem em definitivo para o país natal.
Para as perguntas sobre tributos, Bolsonaro respondeu após consultar Abrahan Weintraub, professor da Unifesp e integrante da equipe de especialistas que o ajudam em seu plano econômico. "Logicamente a gente não busca a utopia do imposto único, mas a redução e a desregulamentação terão que sair o mais rápido possível. Com toda certeza, no segundo ano do possível governo já vamos ter respostas."
Ao se referir à prisão domiciliar para gestantes ou mulheres com filhos até 12 anos, o presidenciável disse que a adoção desse tipo de medida é um estímulo ao crime. "Com toda certeza, na próxima semana, por ocasião das visitas, os nossos presídios femininos serão um grande motel, porque quem não estiver grávida vai se engravidar para sair da cadeia."
'HARAQUIRI'
Em outro momento descontraído que fez Bolsonaro coçar a cabeça, um participante do jantar perguntou ao deputado o que ele achava do político adotar a pena de morte para colegas corruptos, juízes e policiais.
"Quer que o político adote o haraquiri [forma de suicídio praticada no Japão]? Vai faltar espada", brincou. Mas depois, em outro tom, lembrou que a Constituição brasileira proíbe pena de morte e trabalho forçado. "Mas realmente a corrupção deveria ser levada a sério. Eu gostaria que as privatizações no Brasil fossem pelo critério de busca da produtividade, entre outras coisas, não apenas para combater a corrupção", disse.
Bolsonaro sugeriu que, se eleito, pretende de imediato privatizar um terço das empresas. O outro terço passaria por um estudo mais acurado, ficando outro terço final de empresas estratégicas. "A gente não pode jogar tudo para cima e dizer quem paga mais, leva. Temos uma preocupação sobre quem vai comprar, pois você está vendendo uma parte da sua casa."
REDES SOCIAIS
O bancário Dario Dechico seguiu Bolsonaro em todos os seus compromissos com a comunidade brasileira no Japão. Viajou às cidades de Hamamatsu e Oizumi, onde o deputado falou no domingo para um grupo de conterrâneos, e esteve em Tóquio no último compromisso da comitiva.
Desde 2013, Dario acompanha a trajetória política de Bolsonaro e resolveu agora ser um voluntário da possível campanha ao descobrir que compartilha muitas das propostas lançadas pelo deputado. Esse entusiasmo o levou a criar uma página no Facebook para reunir outros apoiadores no Japão. O vídeo que postou em sua página com imagens do presidenciável alcançou 642 mil pessoas e teve 262 mil visualizações.
Apesar de viver há 27 anos em um país onde o porte e a venda de qualquer tipo de arma de fogo são proibidos, Dario defende seu uso no Brasil, alegando que não existe outra saída para a violência que só se agrava. Cerca de 20 anos atrás, ele perdeu o pai que foi baleado quando ladrões tentavam levar o carro dele em Campinas (SP).
"Digo que sou imigrante duas vezes. Saí do Ceará em 1980 para fazer a vida em São Paulo. E depois deixei meu país em 1991 para trabalhar aqui. Quero voltar, mas como vou convencer meus dois filhos que o Brasil é melhor do que o Japão?", indaga José Júlio de Souza. Ele e a mulher, Marisa Akemi, dizem que estão atrás de um lugar seguro, mas ainda não encontraram. Com informações da Folhapress.