domingo, 29 de maio de 2016

De agricultor no sertão de Crateús a condutor da Tocha Olímpica, uma história de resistência

Determinação. Se pudéssemos resumir Carlito Lima em uma palavra, essa seria a melhor definição para o condutor da Tocha Olímpica que representa a Caatinga brasileira. Transformador socioambiental, Carlito não deixou que sua alergia à picada de abelhas o impedisse de realizar o sonho de trabalhar com o animal. Hoje lida com uma espécie nativa da Caatinga, que não possui ferrão, e ajuda famílias no sertão de Crateús a complementarem suas rendas com a produção de um mel raro e nutritivo.

Carlito conduzirá a tocha olímpica no dia 10 de junho em Piripiri, no Piauí, durante sua passagem pelo Nordeste. 

O pequeno produtor rural, agroecológico, Carlito, 29 anos, nasceu em uma comunidade de Crateús, interior do Ceará e desde muito cedo trabalha como agricultor para ajudar no sustento de sua casa e de sua mãe adotiva.

A história pode parecer mais uma dentre as muitas que acontecem no sertão nordestino, mas Carlito não ficou apenas na agricultura, queria completar a renda da família com algo a mais e como sempre se interessou pela forma como as abelhas faziam mel, acabou entrando em um curso de manejo de abelhas. A curiosidade permaneceu durante o curso, mas com essa experiência ele descobriu que era alérgico ao ferrão das abelhas tradicionais.

Naquele momento Carlito precisou abandonar a vontade de trabalhar com as abelhas, mas por pouco tempo. Em 2012 entrou na Associação Caatinga, organização não governamental que trabalha com ações de conservação ambiental e desenvolvimento social no sertão de Crateús.

Hoje ele ocupa o cargo de administrador do meliponário, lugar onde maneja abelhas jandaíra, espécie nativa sem ferrão, o que possibilitou a realização do sonho de trabalhar com as abelhas e sem correr o risco de ser picado. “Quando eu descobri que era alérgico, fiquei meio triste, né? Era o que eu gostava de fazer e não poderia trabalhar com aquilo. Ter surgido a oportunidade de trabalhar com essas abelhas que não prejudicam a minha saúde foi como uma nova chance, para mostrar que nem tudo estava perdido”, explica.

Além do manejo, ele trabalha diretamente com as comunidades rurais de Crateús, falando sobre o cuidado com a natureza e como ter uma convivência harmônica com ela, extraindo o que for necessário sem agredi-la. Seu trabalho é um exemplo forte dessa boa relação. A jandaíra é nativa da Caatinga e para produzir o mel, que é de alto valor nutritivo e comercial, precisa que a mata esteja em pé. Quanto mais diversidade de flora, mais nutritivo é o mel, criando assim um círculo virtuoso entre o homem e o meio ambiente.

Carlito afirma ser de uma geração que sempre teve preocupação com a natureza. Cresceu em contato com as temáticas ambientais e com as notícias sobre mudanças climáticas e sempre sentiu a necessidade de contribuir com o lugar que vive. Hoje tenta mudar a percepção das pessoas que o cercam sobre a natureza. Acredita que está conseguindo. “A Jandaíra é uma polinizadora natural, é fácil de cuidar”, diz ele.

Foi com essa história de crença nos seus sonhos que Carlito foi um dos selecionados para conduzir a Tocha das Olimpíadas 2016. Ele está contente pela oportunidade de conduzir a tocha, mas garante que está ainda mais feliz pelo reconhecimento adquirido em seu espaço de trabalho, por estar fazendo a diferença em sua comunidade.




Fonte Diário do Nordeste