terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Pesquisa da UFPI estuda veneno do sapo para tratamento contra o câncer

(Foto: Divulgação/UFPI)

Uma pesquisa desenvolvida por um professor do Departamento de Química da Universidade Federal do Piauí (UFPI) é mais uma esperança na busca pelo tratamento e a cura de alguns tipos de câncer. Os estudos são desenvolvidos com o veneno dos sapos e, segundo os pesquisadores, já foi possível encontrar grande potencial na substância produzida pelos anfíbios.

A pesquisa é encabeçada pelo professor doutor Gerardo Magela e foi iniciada há cerca de quatro anos, quando o piauiense ainda lecionava na Universidade Federal de Mato Grosso. Lá, as pesquisas foram realizadas com sapos das espécies Rhinella marina e Rhaebo guttatus, encontrados no bioma amazônico. Há cinco meses na UFPI, ele resolveu incluir nos estudos o sapo Rhinella jimi, conhecido como cururu, encontrado na caatinga.

De acordo com Magela, desde o primeiro ano as pesquisas com as espécies da região amazônica já começaram a dar bons resultados. Ele afirma que já foram testadas diversas atividades com o veneno dos sapos e sustenta que as substâncias biológicas encontradas no veneno dos anfíbios possuem grande potencial para combater células cancerígenas.

"Nós já testamos muitas atividades e dentre elas a mais promissora é a atividade citotóxica, que foi testada frente à linhagem de células de câncer. Obtivemos bons resultados em um tipo de câncer chamado de glioblastoma, que ataca o sistema nervoso central, no câncer do colo do útero, de ovário e leucemia", explicou o professor.

Além da constatação do poder das substâncias contra as células de câncer, testes realizados em camundongos revelaram também que o material extraído do veneno dos sapos possui potencial medicamentoso frente à insuficiência cardíaca, malária e até a alguns tipos de fungos encontrados em espécies agrícolas como soja, feijão, milho e algodão.

Apesar de liderar as pesquisas, Magela destaca que uma equipe multidisciplinar é envolvida no trabalho. Dois alunos de graduação em química da UFPI também participam. Os sapos são capturados e têm o veneno coletado por biólogos autorizados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Após a coleta, o material é repassado ao professor, que estuda a constituição química, separa as substâncias dos venenos e as leva para grupos de pesquisa da área de farmacologia.

"Nos testes observou-se um ataque às células cancerígenas. Os camundongos estavam com tumor e observamos uma regressão. Só que detectamos ataque das substâncias às células normais, indicando que não é seletivo como a maioria dos quimioterápicos. Esse ataque ainda é um desafio a ser superado. Temos que encontrar uma substância que mate as células de câncer e seja menos agressiva às normais. É possível que se faça modificações na estrutura dessas substâncias tentando minimizar esses efeitos colaterais", falou.

O professor explica que o veneno é retirado de uma glândula chamada de paratóide, localizada atrás dos olhos dos sapos. "Nessa glândula é onde está o acúmulo do veneno produzido pelos sapos. Tem outras espécies que possuem micro-glândulas que são distribuídas por toda a pele, que também podem estar sendo extraídas", disse.



Fonte G1 Piaui