terça-feira, 6 de outubro de 2015

Cearense sem parte de braços e pernas leva mensagem de esperança para família de bebê sem membros


Ainda no carro que a levava para a casa do pequeno Miguel, Cristina – a nossa espirituosa Kiki – conta que tem acompanhado, pelas redes sociais, a comoção em torno da história da criança. “Soube que tem uma campanha para levar ele para programas grandes como do Luciano Huck e do Gugu. Espero que dê certo”.

Ela explica que se surpreendeu por encontrar alguém com a mesma deficiência que ela. “Meu pai que me falou dele. Quando vi, me surpreendi e quis conhecê-lo na hora”. Uma breve pausa e Kiki continua. “Soube do pai dele, é muito triste como alguém pode abandonar um filho assim, simplesmente porque ele não é igual a todo mundo”.

A expectativa aumenta à medida que se aproxima o destino final e quando o carro da equipe do Tribuna do Ceará para em frente à casa do pequeno Miguel. Pode-se ter uma ideia da rotina agitada que o pequeno menino, de apenas quatro meses, está vivendo. Carros da imprensa, movimentação de familiares e constantes visitas de voluntários e curiosos agora são parte do dia a dia da família.


“Durante as ultrassonografias, o médico dizia que ele estava sentado e por isso não dava para ver as pernas”. (Simone Gomes)

O lugar – uma comunidade no bairro Jangurussu, em Fortaleza – é humilde e de acesso precário. A casa da família Gomes fica de frente para um terreno baldio. Ao descer do carro – sozinha e sem a ajuda –, Kiki desvia com habilidade do esgoto à céu aberto que corre por ali. Sem cerimônia, ela entra na casa, se apresenta para a tia de Miguel, Simone Gomes, e para a avó, Simônia Gomes.

O impacto que Kiki causa é quase palpável, tanto na família de Miguel, que afirma nunca ter visto alguém como o pequeno menino antes, quanto nos muitos curiosos que circulam por ali. Crianças, jovens e adultos fazem um semi-circulo e assistem Kiki pegar Miguel no colo pela primeira vez.


Como velhos amigos, Cristina e Miguel conversam, trocam olhares de reconhecimento e brincam. Vozes abafadas comentam com surpresa a desinibição de Kiki e como ela consegue pegar o garoto no colo sem dificuldade. “Não vou derrubar, peguei todos os meus sobrinhos”, garante.

Com lágrimas nos olhos, Kiki fala para a família sobre a dádiva que eles têm nas mãos. “Esse aqui é uma bênção. Ele vai precisar de muito carinho, de muito apoio e não liguem para nada! Não o escondam de ninguém”.

Simone assiste a cena emocionada. “No começo a mãe dele tinha medo dos comentários maldosos, por isso enrolava ele todinho quando saía. Mas hoje nós todos temos certeza: Deus deu a ele um propósito muito maior do que imaginamos”. 

Palavras de esperança

Sentada no sofá da sala de estar, Kiki palestra para as quase 15 pessoas que se amontoam no pequeno espaço. “Minha vida é normal, não tem nada que me impeça de fazer nada. Eu, como o Miguel, já nasci assim. Foi um remédio que o médico passou para a minha mãe durante a gravidez. Como a Rivânia, a minha mãe também não sabia que eu ia vim assim, na época não tinha ultrassom, não tinha nada. Quando nasci meu pai quase enlouquece, quase quebra o hospital todo”, conta.



Fonte Tribuna do Ceará