quinta-feira, 5 de junho de 2025

Crianças brasileiras enfrentarão até sete vezes mais eventos climáticos extremos que gerações passadas

Foto Divulgação/ Tv Brasil
Segundo o relatório “A Primeira Infância no Centro da Crise Climática“, publicado nesta quinta-feira (5), pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), crianças brasileiras nascidas em 2020 viverão, em média, quase sete vezes mais ondas de calor e quase três vezes mais inundações e perdas de safra ao longo da vida do que aquelas nascidas em 1960.

O levantamento se baseia em dados do Observatório de Clima e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que mostram uma forte escalada de eventos climáticos extremos no Brasil. Entre 2015 e 2023, o número de registros saltou de 1.779 para 6.772. O estudo alerta que crianças de até seis anos estão entre as mais afetados por essas mudanças. Essa faixa etária, que corresponde à primeira infância, representa atualmente 18,1 milhões de pessoas no país, o equivalente a 8,9% da população.

A coordenadora do estudo, Márcia Castro, professora da Universidade Harvard, explica que os efeitos do clima extremo sobre os pequenos vão muito além do desconforto térmico. “Desde o nascimento, essas crianças já estão expostas a ondas de calor, poluição do ar e outros riscos. Se não houver uma redução nas emissões de gases de efeito estufa, o nível de exposição só tende a crescer”, alerta.

Segundo ela, viver em um ambiente com crises climáticas frequentes pode comprometer funções físicas, cognitivas e emocionais ao longo da vida. Entre os riscos estão maior suscetibilidade a doenças, deficiências na aprendizagem, insegurança alimentar, falta de moradia e até deslocamentos forçados.

O relatório destaca que a crise climática agrava ainda mais as desigualdades sociais já enfrentadas por milhões de crianças no país. Atualmente, mais de 37% das crianças de até 4 anos vivem em situação de insegurança alimentar, e cerca de 5% apresentam desnutrição crônica.

Essas populações também são as mais afetadas por desastres naturais. No Rio Grande do Sul, por exemplo, as enchentes de 2024 deslocaram mais de 3.900 crianças de até cinco anos para abrigos públicos. Em todo o país, mais de 4 milhões de pessoas foram desalojadas por eventos climáticos extremos entre 2013 e 2023.

Além disso, em 2024, 1,18 milhão de crianças e adolescentes tiveram as aulas suspensas por conta de catástrofes naturais. Apenas no Rio Grande do Sul, foram perdidas 55.749 horas-aula em decorrência das enchentes.

Entre as recomendações do relatório estão o fortalecimento da atenção primária à saúde, o acesso a água potável, melhorias no saneamento básico e ações de segurança alimentar e nutricional. O estudo também sugere a criação de áreas verdes em creches e escolas, protocolos específicos para situações de desastre, e a promoção de práticas sustentáveis.

Márcia Castro finaliza com um apelo à responsabilidade coletiva. “Não é possível pensar em políticas climáticas olhando apenas para um mandato de governo. Precisamos de um compromisso de longo prazo, envolvendo governos, setor privado e sociedade. É sobre garantir um futuro melhor para uma geração inteira”, apelou.

Com informações do Site Opinião CE.