sexta-feira, 16 de maio de 2025

Artistas cearenses fazem sucesso com produção de bebês reborn e vídeos virais no TikTok

Foto Davi Rocha
A cearense Fernanda Oinegue, 20, tinha apenas sete anos quando descobriu o mundo hiper-realista dos bebês reborn. No dia em questão, ela navegava por vídeos infantis no YouTube quando se deparou com um boneco que parecia uma criança de verdade, mas era feito de vinil – um dos materiais mais utilizados na criação dos reborn. Encantada, pediu um boneco como aquele para os pais, mas só conseguiria o seu primeiro bebê anos depois, quando uma amiga da família resolveu doar o brinquedo.

No início da adolescência, a menina achou aquele universo lúdico tão especial que, algum tempo depois, revendeu a boneca para comprar uma nova e ter contato com outros estilos de bebês. 

Assim fez por anos, até decidir comprar kits artesanais para fabricar os próprios bonecos. Hoje, quatro anos após começar a trabalhar no segmento, ela é dona da “maternidade” Meu Reborn e uma das cegonhas – nome dado às artesãs que fazem bonecos de bebês realistas – mais conhecidas do TikTok, onde acumula quase 400 mil seguidores.

Em meio às polêmicas que têm envolvido os bonecos nas últimas semanas – que vão de personalidades “adotando” bebês reborn a uma série de projetos de lei, além de milhares de vídeos virais –, Fernanda conta que o mercado brasileiro está aquecido. Por mês, a jovem artesã faz de cinco a seis bonecos em um processo 100% artesanal, que envolve a pintura e o implante dos cabelos, feito fio a fio com pelos de ovelha, lhama ou alpaca encomendados na internet.

Feitos de vinil ou silicone sólido – sendo este último uma espécie de bebê reborn premium, ainda mais realista e, por isso, mais caro –, os bonecos feitos por Fernanda custam de R$ 2.590 a R$ 7 mil e podem ou não incluir itens extras, como “enxovais” e acessórios. Cada boneco pode levar até dois meses para ficar pronto, a depender da personalização requisitada pelo cliente.

Apesar de terem viralizado recentemente, os bebês reborn não são novidade. Criados nos EUA na década de 90, eles já foram, inclusive, protagonistas de obras de ficção famosas, como a série “Servant” e o livro “Uma Família Feliz”, do escritor Raphael Montes, obra adaptada para o cinema em 2024.

Segundo ela, todos os bonecos feitos na Meu Reborn são oriundos de kits originais, esculpidos por outras artesãs – e, diferentemente das réplicas, são mais duráveis, e portanto mais caros. Nos últimos quatro anos, a artista acredita ter feito pelo menos 100 bebês reborn.

O que torna os bebês reborn tão realistas, segundo a artista, é a pintura. Com ela, pele e olhos mudam de cor, manchinhas e texturas são adicionadas, bem como os traços que constroem as expressões infantis. No processo artístico, também podem ser adicionados detalhes como marca de vacinas, brotoejas e até ‘bolinhas de leite’.

O alto custo, destaca, tem a ver não só com o material, mas com a própria mão de obra das artistas. Apesar de nichado, o público interessado tem crescido e é dividido entre crianças e colecionadoras adultas, quase sempre mulheres – que têm sido o principal alvo de piadas e ataques na internet nos últimos dias, segundo Fernanda.

Assim como Fernanda, a cegonha Alanis Padilha, 25, começou a se interessar pelo universo reborn ainda na infância, quando sonhava em brincar com as bonecas. Ganhou a primeira bebê em 2013 e, quatro anos depois, quando cursava o 3º ano do Ensino Médio, começou a aprender a transformar kits em bonecos realistas, tendo como mentora uma cegonha experiente.

Por alguns anos, conciliou o cursinho para o vestibular de medicina e a feitura dos brinquedos. Anos depois, já como dona da marca Império Reborns, percebeu que já tinha encontrado seu ofício e passou a se dedicar unicamente aos bebês reborn.

“Com o passar do tempo, se transformou na minha profissão, porque ganhou muito espaço na minha vida”, conta. A tomada de decisão teve como influência o crescimento do mercado: os bonecos vendidos por Alanis custam, hoje em dia, entre R$ 1.200 e R$ 12 mil, mas o valor pode ser ainda mais alto, a depender das necessidades da cliente.

O dinheiro, no entanto, não foi o fator definitivo. “Apesar do retorno que elas dão, o trabalho é muito grande. E você tem que lidar com todo o tipo de cliente, com pessoas. Realmente, é muito complicado, é para quem realmente gosta mesmo”, completa.

Por mês, Alanis Padilha faz de cinco a dez bonecas, mas em datas comemorativas, o movimento aumenta. Próximo a celebrações como Dia das Crianças e Natal, Alanis chega a fazer até 25 bebês reborn em um único mês. Os produtos são enviados para todo o País. A cada seis bonecas vendidas na Império Reborn, duas ou três são para a capital cearense, conta Alanis, que têm clientes fiéis em Fortaleza

Com informações do Diário do Nordeste.