Foto Wandenberg Belem |
A cerca de duas semanas do início da pré-estação de chuvas, os reservatórios hídricos do Ceará estão com o maior volume de água acumulado dos últimos 12 anos. De acordo com dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o Estado armazenava 46,65% do volume total durante a última terça-feira, 12, marca que não era atingida na data desde 2012, quando 50.86% da reserva estava disponível.
Em números absolutos, os níveis de água no Estado alcançaram os 8.608,8 hectômetros cúbicos (hm3), quase 1000 hm3 a mais do que os 7.656 hm3 anotados em 2023. A capacidade máxima do sistema hídrico cearense é de 18.517,2 hm3.
O recorde na quantidade de água presente nos reservatórios é fruto do incremento em diversas regiões do Ceará. Das 12 bacias hidrográficas espalhadas pelo Estado, sete estão com mais volume acumulado este ano do que em novembro de 2023.
“Esse é possivelmente o melhor cenário da última década. Estamos em uma situação muito mais confortável do que a gente teve nesse último período. De fato, os aportes do ano passado aumentaram significativamente o armazenamento do Ceará possibilitando uma maior garantia no abastecimento para a população”, comenta o professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), Francisco De Assis.
Passados mais de cinco meses da alta estação chuvosa, que ocorre entre os meses de fevereiro e maio, apenas o açude Caldeirões, que comporta pouco mais de 1 hectômetro cúbico (hm3), está sangrando.
A “exclusividade” do reservatório do município de Saboeiro exemplifica o contraste entre os períodos de alta e baixa estação de chuvas no Estado, já que em abril deste ano, durante o ápice da quadra chuvosa, o Ceará teve 72 açudes transbordando simultaneamente.
Dados coletados junto à Cogerh na última quinta-feira, 14, indicam que quatro reservatórios estão com volume acima dos 90%, sendo o maior deles o açude Pacajus, em Chorozinho, que possui capacidade máxima de 254 hm3, dos quais 90,43% estão comprometidos. Outros 33 estão abaixo dos 30% da capacidade máxima.
À mesma época do ano passado, nenhuma açude estava transbordando no Ceará. O número de açudes acima de 90% também era menor (3) e 11 reservatórios a mais (44, ao todo) estavam com índices inferiores a 30%.
Dos 33 açudes em nível abaixo do desejado no Ceará este ano, cinco estão nos Sertões de Crateús, bacia com a menor porcentagem de armazenamento em todo o Ceará. Com a 8° maior capacidade de reserva de água do Estado, o local apresenta 15% do possível, o que tem mobilizado estudiosos e profissionais do ramo para a mitigação dos efeitos da seca.
Entre essas medidas está a elaboração de um plano de seca, feito pelo Governo do Estado em parceria com a UFC, que pré-estabelece medidas a serem adotadas mediante períodos de pouca água disponível. Segundo Assis, o objetivo dessa e de outras ações é antecipar uma resposta aos problemas que já se demonstram iminentes no Estado e acelerar o controle de seus efeitos
“Esse plano definiu vários níveis dos reservatórios. Quando estiver muito alto é normal, depois entra em alerta em uma certa faixa de volume, depois seca e seca severa. Para cada nível de seca deste foram estabelecidas medidas que devem ser adotadas pelos usuários de água, pelos agentes públicos e os vários setores envolvidos na gestão dos reservatórios”, acrescenta.
Principais açudes do Estado registram recorde
Em meio a esta série de aumentos, dois dos principais açudes do Estado, Castanhão, em Alto Santo, e Orós, no município de mesmo nome, também registraram recorde de volume em novembro de 2024. Responsáveis por mais de um terço do abastecimento do Estado, os dois representam, em novembro de 2024, 37% da água acumulada em todo o Ceará.
Maior açude da América Latina, o Castanhão observou a marca de 29,73%, melhor índice desde 2013, quando o reservatório acumulava 43% do armazenamento completo. Já o Orós, segundo em capacidade no Estado, acumula 62,54%, recorde desde 2012.
Devido ao expressivo tamanho, os reservatórios acarretaram no aumento também de suas respectivas bacias, do Médio (Castanhão) e Alto Jaguaribe (Orós). Para De Assis, um bom aporte nessas duas regiões é essencial para a garantia do abastecimento em boa parte dos municípios cearenses.
Entre os principais motivos para os altos volumes recebidos pelos dois reservatórios está o bom inverno deste ano no Ceará, que superou em 25% o nível normal de precipitações no Estado durante o quadrimestre entre fevereiro e maio.
Durante o período, o gigante de Alto Santo recebeu 15% de aporte, enquanto o Orós apresentou salto de 24% no quantitativo de água armazenada.
“O estoque de água hoje tem a ver basicamente com o bom inverno que nós tivemos este ano, que no ponto de vista das vazões dos rios, permitiu uma recarga muito grande dos reservatórios. Obviamente a conservação de água e a gestão feita em anos anteriores ajudou também a ter um nível um pouco mais elevado, mas o centro mesmo foi o fim de um período de secas mais prolongado”, explica De Assis.
Com informações do O Povo.