domingo, 8 de outubro de 2023

Sítio histórico do último campo de concentração no Ceará resiste com as memórias dos retirantes da seca de 1932

Foto Prefeitura de Senador Pompeu/Divulgação
Uma cidade do sertão central cearense guarda o pedaço de uma história que quase não deixou vestígios materiais: a construção de campos de concentração para confinar retirantes da seca de 1932. É no município de Senador Pompeu que fica o Campo do Patu, o único dentre os sete campos com ruínas que podem ser visitadas até hoje.

Com a intenção de controlar a intensa migração de flagelados que seguia rumo aos centros urbanos, a política do governo da época criou espaços próximos às estações de trem. Não era permitido sair dos campos, a não ser para trabalhar em obras do estado. Entre 1932 e 1933, foram cinco campos ativos no interior e dois em Fortaleza.

Apesar dos tamanhos e formatos diferentes, todos tinham uma base comum: posto médico, cozinha, barbearia e casebres improvisados. O de Senador Pompeu era incomum: enquanto os demais funcionavam em estruturas provisórias, o Campo do Patu usou prédios de alvenaria já existentes.

Uma cidade dentro da cidade

O campo de concentração aproveitou edificações como apoio para a construção do açude Patu. Perto do canteiro de obras, havia uma espécie de pequena cidade construída a cerca de 4 quilômetros da sede de Senador Pompeu.

Para abrigar as equipes da empresa inglesa Norton Griffiths & Company Ltd. e possibilitar a obra, foram erguidas várias estruturas de alvenaria, como o casarão principal, casas de pólvora, usina para geração de energia e estação de trem com ligação à estrada de ferro do município. Havia também cerca de 200 casas de taipa para os operários.

As construções do açude começaram em 1919 por decisão do paraibano Epitácio Pessoa, que foi presidente do Brasil até 1922. Ao fim do mandato dele, o açude ainda não estava pronto. A obra ficou paralisada depois que o mineiro Artur Bernardes assumiu a presidência, detalha Valdecy Alves, advogado e ativista pela memória dos campos de concentração.

O conjunto arquitetônico estava abandonado há pelo menos dez anos quando a política dos campos foi articulada no Ceará. Ele foi reaproveitado por estar conectado à estação de trem de Senador Pompeu, que ficava no meio do caminho entre Crato e Fortaleza.

O local recebia grandes massas de flagelados que tentavam deixar o sertão central, região fortemente atingida pela seca de 1932. Além dos casarões que já existiam, foram construídos barracões provisórios para as famílias de sertanejos.

Com informações do G1 Ceará.