sábado, 1 de outubro de 2022

Cearense de 94 anos nunca deixou de votar e lembra como eram as campanhas: 'festa' e 'vestido novo'

Quando as mulheres conquistaram o direito ao voto, em 1932, Maria Amélia Cavalcante tinha 4 anos de idade. Cresceu, então, numa sociedade em que cada oportunidade de interferir no futuro era agarrada – e, por isso, chegou aos 94 anos sem perder uma eleição sequer.

Hoje, no Dia Internacional do Idoso, ela ensina sobre cidadania. Neste domingo (2), mesmo não sendo mais obrigada a votar – como todo idoso acima de 70 anos –, Dona Lily, como é carinhosamente chamada por familiares e amigos, faz questão de comparecer à seção eleitoral numa escola de Fortaleza e depositar a contribuição para a democracia.

É em nome dela, aliás, da democracia, que a bacharela em Direito persiste.

Voto porque quero ver esse país respeitado, e cada voto conta. Não é por ser obrigado: é pra modificar, pra melhorar, pra que cada pessoa possa ser, na sua essência, uma obra-prima única e viva.

O “idealismo de ter as coisas certas” acontecendo no País é sentimento quase centenário. Nasceu com ela e, até hoje, corre pelas veias já aparentes sob a pele fina. É na memória, porém, onde Amélia guarda as cicatrizes de diversos períodos políticos do Brasil – como a Ditadura Militar, que ela sequer consegue mencionar. "Shhh, não diga esse nome.”

“Sempre fui metida em movimentos, em grupos, então a gente sempre teve esse idealismo de ter as coisas certas. De defender, lutar pelos direitos de cada pessoa”, frisa, criticando parte de uma geração que considera desmobilizada.

O melhor de tudo é a consciência do que é a democracia. Já tivemos mais consciência disso, quando os grupos se organizavam. Hoje, é todo mundo disperso: celular na mão, internet e pronto. É preciso coesão. A diferença é essa.

VESTIDO NOVO PARA VOTAR

Quando se transporta ao cenário eleitoral de antigamente, a voz de Dona Lily se anima e interrompe a si mesma com risadas. “As campanhas eram muito animadas, era uma festa!”, exclama.

Das saudades que sente, uma é a principal: o respeito. “A gente cantava, cada qual com o seu partido, e não havia nenhuma confusão. Um passava pelo outro, cantava, não havia confusão nenhuma. Eleição era a maior animação”, relembra.

Era uma festa. Havia pessoas que botavam vestido novo pra votar. Eu também, claro! (gargalha) Tinha que entrar no clima.

Diferentemente de antes, a ida à cabine de votação no próximo domingo, segundo ela, guarda menos alegria. A polarização atual a incomoda. É como se agitasse e silenciasse a fala, ao mesmo tempo. “Isso quebra a democracia. Pra mim, isso não é certo”, sentencia.

Com informações do Diário do Nordeste.