quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Cearenses são levados a outros estados, passam fome e sede em trabalhos análogos à escravidão

Quando as oportunidades no mercado formal de trabalho são escassas e a vulnerabilidade social está em demasia - com a ameaça da fome -, cenário constante na pandemia da Covid-19, mais cearenses ficam suscetíveis ao trabalho análogo à escravidão. Boa parte deles, inclusive, é aliciada para exploração em outros estados como Bahia e São Paulo.

Entre 2018 e 2021, 140 pessoas de origem cearense foram resgatadas em situações degradantes em outros estados brasileiros. O número é praticamente o dobro do que as liberações feitas no Ceará, com 74 resgates entre 2018 e 2021 - o que corresponde a 34,5% de todos os casos.

Os dados são de relatórios da Superintendência Regional do Trabalho no Ceará (SRT/CE), levantados a pedido da reportagem do Diário do Nordeste até o fim de dezembro. As informações devem compor o banco de dados nacional sobre o assunto em janeiro.

“Pelo histórico do Ceará, de trabalhadores resgatados, pode ser destacado que a situação de vulnerabilidade é uma forma de manipulação para convencer esses trabalhadores a aceitarem qualquer condição de trabalho", analisa Daniel Arêa, chefe da Fiscalização do Trabalho no Ceará do SRT.

Um exemplo desse cenário ocorreu no interior da Bahia: em setembro de 2020, 43 trabalhadores com origem no Ceará entre 53 resgatados em Xique-Xique.

Todos os cearenses foram aliciados em Martinópolis, na região norte do Ceará, e levados para atuar na extração da carnaúba. O grupo vivia em alojamentos precários e sem alimentação adequada.

No local, foram encontrados alimentos guardados em sacos no chão no que as refeições eram preparadas em tijolos. Os trabalhadores lavavam roupas de cócoras e sob o sol por falta de estrutura. Sete resgatados, ainda, precisam dormir no mato, embaixo de árvores, pela falta de abrigo.

Com informações do Diário do Nordeste.