O contraponto de quem vive em conglomerados urbanos e quem permanece nas cidades interioranas onde "todos se conhecem" é comprovado a partir dos números relacionados à violência. Em 2021, 18 cidades do Ceará não registraram assassinatos. O levantamento feito pelo Diário do Nordeste a partir dos dados disponibilizados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) revela que distante da Capital, com quase mil mortes violentas no ano passado, há locais onde prevalece a sensação de segurança.
Dentre os municípios com menor índice de mortes, a cidade de Caririaçu tem o maior número de habitantes, conforme estimativa do IBGE. Com pouco mais de 27 mil residentes, ali persiste a rotina de ao anoitecer os vizinhos sentarem nas calçadas para conversarem, sem a preocupação se vão ser ou não abordados por criminosos.
Já os municípios considerados como mais perigosos no Ceará, devido ao alto índice de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs), que englobam homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, são: Fortaleza, com 902 casos; Caucaia, 276; Maracanaú, 116; Sobral, 110; e Juazeiro do Norte, 92 casos. Somadas as ocorrências nas cinco localidades são 1.496 homicídios, quase 45% dos 3.299 contabilizados pela SSPDS em todo o Estado, em 2021.
O levantamento aponta que 37 municípios têm baixo índice de CVLIs, considerando que neles foram registrados de um a três assassinatos em 2021. Entre eles temos: Aiuaba, Ererê, Mulungu, Palmácia e Senador Pompeu. Assim como na Capital e RMF, predomina no Interior o mesmo perfil das vítimas: sexo masculino, baixa escolaridade, de 18 a 35 anos e morta por disparos de arma de fogo.
Os dados refletem a predominância das facções criminosas em determinados espaços. Onde o tráfico de drogas e de armas se instala, a violência aflora como consequência.
Em entrevista concedida ao Diário do Nordeste, o secretário titular da SSPDS, Sandro Caron afirmou que: "A secretaria tenta evitar chegada das facções nas cidades do interior, onde permanece a sensação de segurança. A principal estratégia para isso é a ação de Inteligência que se monitora o avanço dos grupos criminosos. Quando se constata tentativa de expansão para determinada área já se procura agir de imediato para evitar instalação de pontos de vendas de drogas em municípios que ainda estão imunes a esta ação".
"Onde há números maiores de homicídios instalamos núcleos da Polícia Civil especializados na investigação deste tipo de crime, reforço da tropa militar nas manchas criminais e combate ao tráfico de drogas. O crime-mãe que gera todos os outros crimes graves é o tráfico de drogas. Grande parte dos homicídios que acontecem no Estado têm relação com a disputa de tráfico de drogas. Combatendo o tráfico de drogas enfraquecemos os grupos criminosos"
Sandro Caron
Secretário da Segurança Pública do Ceará
Para o sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da UFC, Luís Fábio Paiva, os números ainda comprovam que "segurança pública não é um problema de policiamento, mas de relações sociais orientadas para uma boa convivência".
"Em territórios menos povoados e com melhor integração da comunidade, é possível encontrar melhores condições de segurança e bem estar para população. Isto tem um impacto na gestão da vida e da maneira como cada pessoas irá atuar para a criação de um território seguro", afirma o especialista ao ponderar que as dinâmicas sociais de forma aprofundada dos locais onde não há homicídios ao longo de um ano.
AS 18 CIDADES DO CEARÁ SEM HOMICÍDIOS EM 2021 E A POPULAÇÃO ESTIMADA PELO IBGE:
Altaneira - 7.712
Antonina do Norte - 7.042
Arneiroz - 7.848
Baixio - 6.318
Caririaçu - 27.008
Catarina - 21.041
Chaval - 13.112
Granjeiro - 4.784
Ipaporanga - 11.597
Itaiçaba - 7.094
Meruoca - 15.309
Miraíma - 13.965
Moraújo - 8.833
Piquet Carneiro - 17.210
Porteiras - 14.920
Potiretama - 6.455
Tarrafas - 8.555
Umari - 7.740
Já quem mora em Caucaia, na Grande Fortaleza, se preocupa com a migração dos grupos criminosos. Segundo um morador da cidade, que terá sua identidade preservada, desde 2019 houve uma piora significativa na segurança. Ele atribui à movimentação dos grupos armados, afirma que nos bairros mais afastados vêm sendo cada vez mais comum registros de mortes por acerto de contas e diz que predomina a regra imposta pelos traficantes.
"Mesmo em pequenas comunidades, vemos pichações marcando o território de determinada facção. Na área das praias, onde existe incentivo turístico, vez ou outra a gente ouve falar de assalto ou furto. Então, até nós moradores precisamos tomar cuidado quando frequentamos outras localidades. Baixar os vidros ou andar sem capacete virou praticamente uma lei".
Com informações do Diário do Nordeste.