quarta-feira, 30 de junho de 2021

Medo da pandemia do coronavirus aumenta chance de transtornos mentais em grávidas, diz estudo da Universidade Federal do Ceará com Harvard

O medo da pandemia de Covid-19 pode aumentar os casos de transtornos mentais comuns (TMC), tais como crises de pânico e de ansiedade, insegurança e estresse pós-traumático, de acordo com pesquisa feita pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América.

A UFC explica que mulheres grávidas tendem a apresentar com maior frequência esses TMCs. Contudo, a pandemia levou esse quadro a outro patamar de gravidade. O estudo concluiu que os sentimentos negativos despertados pelo coronavírus fizeram elevar em até três vezes a prevalência de tais problemas entre as pessoas desse grupo.

Para chegar ao resultado, foi realizado um levantamento com 1.041 gestantes de Fortaleza, com idades entre 16 e 48 anos. Os dados foram colhidos em abril e maio do ano passado, logo após as autoridades declararem o lockdown na cidade, e estão apresentados no artigo "COVID-19 and mental health of pregnant women in Ceará, Brazil" ("Covid-19 e saúde mental de mulheres grávidas no Ceará, Brasil", em tradução livre), publicado em maio de 2021 pela Revista de Saúde Pública.

O estudo mostra uma prevalência de 45,7% de TMC entre as mulheres grávidas. O percentual representa a média registrada entre as pessoas entrevistadas. As que revelaram ter medo da Covid-19 mostraram riscos até três vezes maiores de apresentar transtornos mentais em comparação àquelas que não nutriam tal sentimento, conforme a UFC.

Motivo de preocupação

Márcia Machado, professora da Faculdade de Medicina da UFC e uma das responsáveis pelo estudo, considera os dados "assustadores" e afirma que devem ser motivo de preocupação ainda maior em razão das consequências físicas que problemas psicológicos podem trazer não somente às mães, mas também ao bebê.

O artigo aponta que transtornos como ansiedade e depressão podem desencadear complicações como aborto espontâneo, parto prematuro, baixo peso do bebê ao nascer, menor duração do aleitamento materno, déficit de crescimento e atraso no desenvolvimento infantil.

Márcia Castro, professora titular da Harvard School of Public Health, que também assina o estudo, ressalta que sintomas como falta de ar, taquicardia (coração acelerado), suor nas mãos, perda de sono, choro frequente, perda de apetite, alterações trombóticas, dentre outros, não costumam ser levados em conta por pessoas próximas. Assim, os problemas se agravam e o percurso da gravidez é prejudicado.

A pesquisa traz dados sobre os fatores que influenciam mais esses riscos de transtornos mentais, tais como a situação socioeconômica das mulheres, o excesso de más notícias pela televisão e redes sociais e a presença ou não de acompanhamento pré-natal.

Com informações do G1 Ceará.