quarta-feira, 23 de junho de 2021

Estudo da Fiocruz aponta alto índice de pessoas assintomáticas circulando com coronavirus

Por que o uso da máscara de proteção e a manutenção do distanciamento social ainda são tão importantes no combate à pandemia? Especialistas reforçam a tese de que o vírus permanece com alta transmissibilidade e somente com vacinação em massa – o que não tem ocorrido no Brasil – poderíamos avançar gradualmente para a desobrigação dessas medidas de segurança.

Outro fator que corrobora a manutenção destas medidas não farmacológicas é o alto índice de infectados assintomáticos. Sem manifestar quaisquer sintomas, o paciente infectado acaba se tornando ponto de transmissão do vírus sem saber que está contaminado. Uma pesquisa da Fiocruz e da Universidade Estadual de Feira de Santana (BA), mostrou que o percentual de assintomáticos chegou a 11%.

Para Fábio Miyajima, pesquisador da Fiocruz Ceará e coordenador geral da Rede de Vigilância Genômica da Fiocruz no Estado, este percentual é "altíssimo". No entanto, ele pondera que o número deve ser observado com cautela.

"A pesquisa foi realizada entre abril e maio e coincide com o pico da transmissão da segunda onda em todo o Brasil. [À época] a transmissão comunitária estava altíssima. Talvez agora essa taxa [de 11%] esteja menor", considera.

Embora possa existir redução na porcentagem verificada no estudo da Fiocruz Bahia, Miyajima reconhece o alto número de assintomáticos em todo o País e alerta para o risco de transmissão de variantes mais agressivas. "Só vamos achar esses casos se procurarmos. Se não testa, não sabe que tem [o vírus]".

O Brasil está muito aquém de países da Europa. A testagem tem que ser proativa e não reativa. Para identificar os assintomáticos, é preciso incrementação da testagem.

Fábio Miyajima

Pesquisador da Fiocruz Ceará

O estudo analisou amostras de 1.400 pessoas escolhidas aleatoriamente na cidade de Feira de Santana, na Bahia. Cientistas identificaram que a variante gama, também chamada de P1, está sendo amplamente disseminada por pessoas assintomáticas. No Ceará, essa variante representa mais de 90% dos casos de infecções neste ano, segundo a Fiocruz.

Das 1.400 pessoas testadas com RT-PCR, 154 estavam positivas. Todas elas estavam indo trabalhar normalmente.

Transmissão

Sem sintomas, é natural que a pessoa infectada mantenha suas atividades laborais inalteradas. É desta forma que a pandemia se move e se arrasta por tantos meses no Brasil. "Por isso é importante que todos, sem nenhuma exceção, continuem usando máscaras, álcool em gel e siga o distanciamento social", alerta Fábio. Assim, a chance de um assintomático transmitir o vírus é menor.

A infectologista cearense e professora da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Monica Façanha, alerta que a sociedade não pode partir do princípio de que se não há sintomas, não há doença. "Muitos não manifestam [sintomas] e ainda assim pode transmitir o vírus".

A analista da rede de vigilância genômica, Ticiane Cavalcante, é um desses casos. Ela testou positivo para a Covid-19 em manifestar sintomas. "A única manifestação foi uma congestão nasal de três dias. Podia ser qualquer coisa, uma alergia, rinite, uma gripe leve. Mas eu estranhei e resolvi fazer o teste".

Poucos dias depois, quando o resultado do teste saiu, e deu positivo, Ticiane conta que "já não sentia mais nenhum sintoma".

Muitas pessoas associam os sintomas leves a alguma doença mais simples e acabam optando por não realizar a testagem.

Ticiane Cavalcante

Analista da rede de vigilância genômica

Após dez dias de isolamento social, Ticiane diz ter recebido autorização de três médicos para retornar ao trabalho. "Nos 15º refiz o teste e ainda estava infectada. Com 20 dias, repeti e o exame deu novamente positivo. Se tivesse retornado com 10 dias, estaria suscetível a transmitir o vírus no meu ambiente de trabalho", descreve a analista.

"Meu conselho é que todos continuem usando máscara e mantenham todas as medidas de segurança. O vírus pode estar em qualquer um de nós", conclui.

Com informações do Diário do Nordeste.