segunda-feira, 31 de maio de 2021

Sem acesso à água, famílias do Interior do Ceará escolhem entre matar a sede e se proteger do coronavirus

Diarreia, febre, cólera, verminoses, tantas outras doenças e, agora, a Covid-19. Para milhares de cearenses o novo coronavírus veio para inflar a dura realidade daqueles que não têm acesso à água potável. Sem este bem elementar, fica inviável manter a higienização frequente das mãos conforme orienta a Organização Mundial da Saúde (OMS) como forma de reduzir a transmissão do vírus.

Diante da escassez do líquido, famílias se veem encurraladas na decisão de usar a pouca água para beber ou para higienização. A escolha natural, claro, é saciar a sede e os cuidados recomendados pelos especalistas acabam por ficarem em segundo plano. É assim para mais de 70 famílias em duas localidades da zona rural de Iguatu.

“Para fazer a higienização é preciso mais água, só que não temos nem para beber e tomar banho”, externa Maria José Cardoso, presidente da Associação dos Moradores do Assentamento Mirassu, em Iguatu, região Centro-Sul do Estado. Na localidade vivem 26 famílias, todas enfrentam a mesma dificuldade de acesso à água.

Com os olhos boiando em águas salgadas – a única que não costuma faltar –, Maria acrescenta: "A gente fica sem saber o que fazer. Desprotegida quando volta da rua, não temos como lavar as mãos nem as compras. Só nos resta a proteção de Deus".

A cerca de 30 km do Assentamento, outras 48 famílias residentes na Agrovila Ingá, também em Iguatu, padecem do mesmo dilema. “Nessa pandemia a gente tem de se virar com o que tem, se chover ou rapaz da pipa [referindo-se ao Caminhão-Pipa] trouxer [água], a gente tem, se não, é o que Deus quiser”, lamenta a agricultora Edilene Braga.

Aos moradores da Agrovila, fundada há mais de dez anos, a ironia é que eles convivem com a falta de água mesmo estando a poucos metros do Açude Trussu, reservatório responsável pelo abastecimento das cidades de Iguatu e Acopiara.

“Estamos apenas 800 metros do sistema de captação de água do Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) de Iguatu e não temos água porque não há um sistema de bombeamento”, criticou o aposentado José Sales. “Não temos água bruta e nem tratada”.

Com informações do Diário do Nordeste.