quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

No Ceará, 7 a cada 10 idosos mantêm medidas de isolamento social

No Ceará, 7 a cada 10 idosos mantêm medidas de isolamento social
Foto Fabiane de Paula/SVM
Quando o decreto estadual de isolamento social, anunciado no dia 16 de março deste ano, determinou o fechamento de tudo o que não fosse essencial, a rotina de Maria de Lourdes Silva, 67, foi totalmente quebrada: a caminhada matinal no calçadão do bairro onde mora foi suspensa, a conversa vespertina na calçada com as vizinhas foi “proibida pelos filhos” e a missa de toda noite ficou restrita à tela do celular. E quase nove meses depois, segue semelhante.

“Já estou indo à missa, mas nem é mais todas as noites. E sempre de máscara e com meu álcool na bolsa. Eu mesma não me sinto mais tão segura de ir pra feira pegar minhas frutas. Tem muita gente sem máscara, principalmente os mais novos. Pra eles essa pandemia parece que já fez foi passar, né?”, questiona a aposentada, complementando que sente, sim, saudades da “vida de antes”, mas que “não tem mais idade para teimar com a saúde”.

Os idosos do Ceará são o segundo grupo com maior adesão às medidas restritivas para prevenir a disseminação da Covid-19, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) específica sobre a doença pandêmica. O levantamento, cujos resultados de outubro foram divulgados ontem (1º), aponta que 74,5% dos cearenses acima de 60 anos cumpriram isolamento social em algum nível naquele mês. Apesar disso, o número teve queda de 5 pontos percentuais em relação a setembro. O grupo líder é de crianças e adolescentes de até 13 anos: 80,4% deles aderiram ao isolamento em outubro.

Desde março, quando os primeiros casos do novo coronavírus foram registrados no Ceará, até as 11h13 de ontem (1º), mais de 57 mil idosos já haviam testado positivo para a doença, de acordo com dados do IntegraSUS, plataforma da Secretaria da Saúde (Sesa). Do total, 7.558 não resistiram às complicações e morreram de Covid-19.

A virologista, epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel, destaca que a proporção de casos de Covid-19 por faixa etária tem se modificado, já que, “inicialmente, os mais acometidos eram idosos, depois jovens”. Os riscos às pessoas acima de 60 anos, contudo, permanecem, já que o vírus segue circulando entre pessoas com quem elas têm contato. “Com a flexibilização, as pessoas acreditam que a pandemia estava diminuindo a ponto de se sentirem seguras, então voltaram a frequentar aglomerações e festas, por exemplo. Como a imunidade contra o vírus não é duradoura, se o jovem convive com idosos, por mais que manifeste sintomas leves, pode estar levando o agente para pessoas suscetíveis a casos mais graves”, ressalta.

Mário Oliveira, biomédico e virologista, reforça que “a população idosa sempre estará em risco”. “Crianças e idosos têm imunidade bem inferior. No início, todo mundo quer resguardar os idosos, ter mais cuidados, mas hoje não existem mais restrições aos jovens, que começaram a sair, mesmo que parte deles conviva com idosos. Muitos não têm esse discernimento”, lamenta o médico.

A redução do isolamento social no Ceará é vista mês a mês desde que as atividades econômicas começaram a ser flexibilizadas. Em outubro, apenas 13,4% dos cearenses ficaram “rigorosamente isolados”, de acordo com PNAD Covid-19. Dos 9,2 milhões de habitantes do Estado, só 1,2 milhão manteve isolamento rígido no mês de outubro. Outros 3,7 milhões (40,2%) reduziram os contatos pessoais, mas continuaram saindo de casa; 3,6 milhões (39,5%) ficaram reclusos e “só saíram em caso de necessidades básicas”; enquanto 533 mil (5,8%) “não adotaram qualquer medida de restrição”, aponta IBGE.

O Ceará nunca atingiu o nível de isolamento preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 70% da população total. Conforme dados da In Loco, empresa que utiliza geolocalização para verificar os índices no Brasil, o maior patamar alcançado no Ceará foi registrado no dia 22 de março, poucos dias após o decreto estadual de isolamento social, quando 63% da população permaneceram em casa.

Com informações do Diário do Nordeste.