sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Cearenses positivados para coronavirus pela segunda vez relatam medo e alertam: 'Não tem como ninguém ficar tranquilo'

Ceará é um dos estados com relatos de pacientes positivados para Covid-19 mais de uma vez. — Foto: Camila Lima
Foto Camila Lima
A alegria e o alívio de se recuperar da Covid-19 se transformaram em medo e incredulidade para cearenses que receberam o diagnóstico da doença pela segunda vez. É o caso da fisioterapeuta Clara Wirginia de Queiroz, 32. Cerca de três meses após confirmar que estava infectada com o coronavírus, ela voltou a ter sintomas da doença e, ao realizar o teste, deparou-se novamente com o resultado positivo. 'Não tem como ninguém ficar tranquilo', relata a profissional da saúde.

“Quando eu recebi a ligação da diretora do hospital do interior, eu até brinquei: ‘não, por favor, não é de novo’. Ela disse ‘Clara, sim, é positivo e vamos lhe isolar’”, compartilha a fisioterapeuta, que descobriu o segundo diagnóstico no começo de setembro. Apesar de ter apresentado dor de cabeça e diarreia no mês anterior, acreditava que eram resquícios dos sintomas da primeira contaminação, em maio.

“Fica aquela sensação: ‘cara, eu peguei de novo. E se eu piorar, como vai ser?’ Nem eu entendia o que estava sentindo”, diz.

Apesar da surpresa e do medo, principalmente por não saber com certeza de quem pegou a doença, Clara rapidamente retomou o isolamento social para evitar a transmissão a outras pessoas. “Nesse momento, me cuidar é cuidar do outro também”, reflete.

Suspeita de reinfecção gera dúvidas entre pacientes

Para o médico clínico e geriatra João Rafael Gomes, 29, o segundo diagnóstico ainda tem uma carga de incerteza. “Na verdade, não tenho certeza se foi uma reinfecção ou se o vírus ficou latente e reativou. O fato é que tem dois resultados com Covid-19 detectável no intervalo de pouco mais de um mês, com um negativo no meio”, explica.

O primeiro teste RT-PCR foi realizado na metade de julho, com resultado positivo, e refeito ao final do mesmo mês, apontando negativo. Ao passar por um novo exame durante o mês de setembro, o médico recebeu o segundo diagnóstico positivo.

“A primeira vez fiquei mais preocupado, a segunda não. Mas o fato de a primeira vez ter sido leve não significa necessariamente que a segunda também vá ser, porque a gente não sabe quais são os mecanismos da doença”, reflete.

Se, na primeira infecção, apresentou sintomas como fadiga, mal estar, dor de garganta e febre, a segunda foi assintomática. Apesar disso, continua seguindo medidas sanitárias, a exemplo do distanciamento social e uso de máscara.

Intervalo médio entre positivos é de 60 dias, diz especialista

De acordo com o infectologista Keny Colares, a literatura médica considera reinfecção quando o indivíduo tem dois testes positivos com intervalos de 45 ou 90 dias.

“O critério técnico para aceitar como reinfecção é uma detecção do vírus em dois episódios separados. Se a pessoa tiver sintomas, em 45 dias de intervalo, esse é o mais utilizado. Se for uma pessoa sem sintomas, se for teste de laboratório, 90 dias de intervalo”, explica.

No entanto, o médico considera que o critério é “arbitrário”, já que “nem todos os casos respeitam esse intervalo de 45 ou 90 dias. Alguns deles aconteceram em menos tempo”. Em Fortaleza, afirma, a média foi de 60 dias. A diferença é que os casos locais não passaram por sequenciamento genético para comprovar a reinfecção.

“A gente tem chamado esses casos de 'recorrência' porque como não tem a comprovação do código genético, está detectando só que a pessoa ficou doente e teve um teste positivo, ficou boa, e depois voltou a ficar doente e teve o teste positivo”, finaliza.

Para Clara, o segundo teste serviu para lembrar que a vida ainda não voltou ao normal. “Foi bom para dar aquela freada. Tem muita gente que já pegou, mas outras que não pegaram podem vir a pegar com esse relaxamento”, declara.

De forma similar, João Rafael acredita que o diagnóstico positivo pela segunda vez passa uma mensagem sobre o relaxamento dos cuidados no combate à doença. “Nós ainda estamos com muito menos informação e conhecimento a respeito dessa doença do que a precisamos. A gente não pode baixar a guarda”, alerta.

Com informações do G1 Ceará.