Todas as seletivas no Brasil são organizadas pela equipe da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). A etapa inicial consiste em uma prova com estudante de todo o país. Quem atinge uma determinada pontuação é qualificado para seguir na seleção, dividida em mais duas etapas, uma virtual e outra presencial, no Rio de Janeiro. É essa triagem que decide os selecionados para a fase latina.
“Está sendo muito empolgante, muito gratificante. Depois de tanto preparo durante as seletivas”, confessa o estudante. Para a seleção, Bismark fez maratona diárias de estudos. “Eu estudava com meus amigos, no nosso grupo de estudo e também no Seara da Ciência. Lá eu recebia o apoio de diversos professores e alunos”, relembra. A motivação para o esforço, conta o estudante, sempre esteve definida: levar o nome do ensino público para esses espaços competitivos.
“Minha intenção sempre foi mostrar a importância da escola pública. Eu já recebi convite para competir por escolas particulares mas eu quero levar o nome da escola pública comigo. O local de onde você veio não importa, todos podem entrar nessas competições”, revela.
Não foi a primeira tentativa do jovem para participar do evento latino. Bismark se inscreveu na seletiva há dois anos, após uma experiência com Astronomia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Foi durante essa passagem que conheceu a Olimpíada. “Em 2018, fiz um curso preparatório para Astronomia no IFCE. Eu já tinha interesse, mas nesse contato descobri mais coisas sobre a área e ainda descobri a olimpíada. Já arrisquei a seletiva naquele ano mesmo e consegui ficar até a segunda fase mas não avancei para a etapa latina”, explica.
Esforço coletivo
Disposto a seguir nas fases em uma nova candidatura, Bismark, no ano passado, levou para os colegas o desejo de estudar Astronomia em conjunto. Dessa movimentação nasceu o primeiro grupo de estudos na escola, formado por entusiastas da Astronomia e pelo professor, e mestre em ensino de física da instituição, Maxwell Lima Filho, 26. O docente conta como essa formação foi importante para o desempenho do aluno e de outros colegas. “Com a ajuda de ex-alunos e do Bismark, fundamos o primeiro Grupo de Astronomia do Adauto Bezerra, o GAB. Era um espaço de cooperação e bastante gratificante”, relembra.
Da equipe de alunos, outros três, além de Bismark, chegaram nas etapas mais avançadas da seletiva, apesar do estudante ser o único com a nota mínima para o evento latino. “É uma conquista porque é a primeira vez que a gente fez isso junto. A gente se reuniu para estudar junto, era um grupo de estudo a parte”, completa. O rapaz vê na coletividade e na rede de suporte uma das motivações para sua vitória.
Para Maxwell, a chegada do estudante até a etapa latina manda um recado sobre o ensino público. “Os alunos dessas escolas têm total capacidade e possibilidade reais de participar de eventos internacionais como esse. A passagem do Bismark dá representatividade para essa rede de ensino, que já é tão discriminada”, avalia.
“Eu cheguei até aqui pelo esforço de várias pessoas, principalmente de professores e amigos das escolas públicas. Meus momentos no IFCE, no Seara da Ciência, no grupo de estudo, tudo contribuiu para isso. Isso mostra mais ainda o poder da escola e do ensino público”, finaliza Bismark.
Próximos passos
A Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA) acontece desde 2009, com a primeira edição realizada no Rio de Janeiro. O Ceará lançou representante na comitiva, pela primeira vez, em 2013. De lá para cá outros 7 cearenses participaram do encontro. Em 2020, o Brasil será representado por 5 alunos. Além de Bismark, outros 2 cearenses compõem a equipe.
A OLAA estava prevista para acontecer no Equador, de acordo com Bismark. Ele aguarda as definições da organização para a seleção latina, que devido a pandemia de Covid-19, será virtual. No último ano do ensino médio o estudante já tem em mente o próximo passo na carreira, o ingresso no ensino superior na Universidade Federal do Ceará (UFC). A escolha pela instituição cearense também tem uma motivação particular.
“Eu quero cursar física lá. Não gostaria de sair do Estado porque vejo que nós podemos crescer muito na área de Astronomia localmente. Eu quero participar disso e quero levar essa discussão como professor para a escola pública”, avalia.
Com informações do Diário do Nordeste.