quinta-feira, 7 de maio de 2020

Coronavirus faz dobrar casos de ansiedade e de estresse no Brasil; depressão cresce 90%

Os problemas de saúde mental estão aumentando durante a pandemia de Covid-19 e o isolamento social forçado, segundo estudo da Universidade do Estado do Rio (Uerj). Publicado online pela The Lancet, embora ainda sem revisão, o levantamento revelou que casos de ansiedade e estresse mais do que dobraram, enquanto os de depressão tiveram aumento de 90%.

A pesquisa revela que as mulheres são mais propensas a sofrer com ansiedade e depressão durante a epidemia, em especial as que continuam trabalhando, porque se sentem ainda mais sobrecarregadas acumulando tarefas domésticas e cuidados com os filhos em casa. Outros fatores de risco são a alimentação desregrada, doenças preexistentes e a necessidade de sair de casa para trabalhar.

"Fatores sociais também aumentam os níveis de adoecimento mental", explica Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da Uerj e coordenador do trabalho. "Trabalhadores que precisam sair de casa durante a quarentena, entregadores, pessoas que trabalham no transporte público ou em supermercados, profissionais de saúde, todos apresentam indicadores mais elevados quando comparados aos que estão em casa. Eles se veem mais vulneráveis à contaminação e, por isso, mais ansiosos e estressados."

No caso da depressão, as principais causas são a idade avançada, o baixo nível de escolaridade e a o medo de passar a infecção para pessoas mais vulneráveis. "A presença de um idoso em casa, que são as pessoas mais vulneráveis e que têm maior porcentual de letalidade, cria um nível de estresse aumentado, pelo temor de passar o vírus", exemplificou.

Entre os dias 20 de março e 20 de abril, 1.460 pessoas de 23 Estados responderam a um questionário online com mais de 200 perguntas. O trabalho é coordenado por Filgueiras com Matthew Stults-Kolehmainen, do Hospital Yale New Haven, nos EUA. Segundo Filgueiras, os resultados sugerem um agravamento preocupante da situação desde o início da epidemia. O porcentual de pessoas que relataram sintomas de estresse agudo na primeira etapa da coleta de dados (entre 20 e 25 de março) foi de 6,9% para 9,7% na segunda rodada (de 15 a 20 de abril). Entre os casos de depressão, o salto foi de 4,2% para 8%. A crise aguda de ansiedade pulou de 8,7% para 14,9%.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), os porcentuais médios esperados desses problemas na população são: estresse, 8,5%; ansiedade, 7,9%; depressão, 3,9%;

De acordo com a pesquisa, quem recorreu à terapia online e praticou exercícios físicos apresentou índices menores de estresse e ansiedade. Da mesma forma, aqueles que puderam continuar praticando exercícios aeróbicos tiveram melhor desempenho do que os sedentários ou e os que praticaram exercícios de força.

Mas Filgueiras faz um alerta porque a pressão social para se exercitar, por exemplo, pode acabar impondo ainda mais estresse às pessoas. "Respeite seu estilo de vida e limites."

Curiosamente, um fator que se revelou protetor é a presença de crianças. "Isso foi surpreendente, porque de certa forma esperávamos que fosse um fator estressor ter as crianças confinadas", disse. "Por outro lado, como pai de um menino de 4 anos que está tocando o terror em casa, digo que estaria mais estressado se ele estivesse na escola e eu não soubesse em que condições."

Profissionais de Saúde

O médico Moacyr Silva Junior é responsável pelo controle de infecção no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. É quem planeja a paramentação dos médicos, quais proteções devem ser usadas no centro cirúrgico, a melhor maneira de prevenir e lidar com uma doença. Quando o coronavírus virou pandemia, ele se viu no olho do furacão.

As notícias que chegavam da China e da Itália, principalmente, mostravam médicos infectados por pacientes, enfermeiros afastados após contágio, o sistema de saúde em colapso. No trabalho, a demanda de tarefas para o infectologista aumentava em escala industrial, com agravante de não haver perspectiva de como combater a Covid-19. Moacyr perdeu o sono e passou a ter sintomas de ansiedade. "Estava com medo de morrer, medo de a minha mulher, que também é médica e trabalha em pronto-socorro, morrer, medo de não poder cuidar da nossa filha de 8 anos."

Médico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Pedro Fukuti conta que o sintoma de ansiedade é o mais comum a ser enfrentado por profissionais da saúde nesta pandemia. "São mais ou menos 60% dos casos que atendemos nas últimas semanas. Corresponde à preocupação com a família, preocupação em se contaminar, as escolhas que eventualmente terá de fazer. Os demais casos estão ligados à depressão, como tristeza, falta de motivação, sono excessivo..."

Fukuti coordena no HC o núcleo para cuidar da saúde mental dos funcionários. O Hospital Albert Einstein e o Sírio Libanês criaram programas semelhantes. Psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais ficam disponíveis para realizar pré-atendimento remoto - por telefone, WhatsApp ou chat - presencial, por meio de conversas em grupo, e ainda atendimento individual, se necessário.

"A intenção é evitar que médicos, enfermeiros e outros profissionais sejam afastados. A preocupação está em evitar o afastamento por qualquer transtorno mental e com isso evitar a sobrecarga de quem está trabalhando", explica Fukuti.

Com informações do Diário do Nordeste.