terça-feira, 7 de abril de 2020

20 mil ciganos cearenses dependem de doações para enfrentar fome durante quarentena

Doações recebidas através do Mesa Brasil do Serviço Social do Comércio (SESC
Foto Instituto Cigano do Brasil
Cerca de 300 mil ciganos nordestinos estão vivendo em situação de vulnerabilidade durante a quarentena decretada pelas autoridades públicas contra o avanço do coronavírus. Diante da pandemia, a comunidade étnica adotou o confinamento e passou a enfrentar a ameaça da fome. De acordo com o presidente do Instituto Cigano do Brasil, Rogério Ribeiro, a situação é ainda mais delicada em municípios do Interior do Ceará, onde há aproximadamente 20 mil ciganos, que lidam também com a escassez de recursos de higiene e de limpeza.

“Se acontecer um caso de coronavírus na comunidade cigana, vai se alastrar, porque moram tudo próximo. Aqui no Ceará a gente não tem a cultura de acampamento, somos sedentários (têm moradias fixas e dificilmente viajam)”, afirma Rogério Ribeiro. Ele conta que, ao chegar a notícia de um caso confirmado de Covid-19 próximo ao município de Pindoretama, as famílias ciganas residentes na Cidade passaram a ficar ainda mais assustadas.

Rogério, que é da etnia Calon, revela que ao todo existem 3 milhões de ciganos no Brasil. Além dos Calon, há os grupos de etnia Rom, que são divididos em subgrupos como os Kalderash, Macwaia, Horahane, Lovaria e Rudari, entre outros. Desses 3 milhões, somente 26 mil, aproximadamente, fazem parte do Cadastro Único do Governo Nacional, o que torna mais difícil para os grupos receberem auxílios federais, como o proposto na última semana de R$ 600.

“A gente vê muito papel e burocracia, mas nada na prática. A atuação do governo é nessa questão do isolamento social, uso de máscara e álcool gel, faz parte do pacote. Mas também faz parte as pessoas se alimentarem; porque se não morrerem do coronavírus, vão morrer de fome, de outras doenças ou de uma depressão”, pontua o presidente do Instituto Cigano. Rogério também afirma que faltam recursos de higiene e limpeza para dar assistência à população durante esse período de quarentena.

Famílias ciganas dependem de doações ainda insuficientes

Em São Paulo, onde há mais de 1 milhão de ciganos das etnias Calon e Rom, a comunidade se reuniu para fazer arrecadações. Aqui no Ceará, no entanto, essas iniciativas seguem mais tímidas, afirma Rogério. As últimas doações recebidas pelo Instituto ocorreram nesta segunda-feira, 6, a partir do programa Mesa Brasil do Serviço Social do Comércio (SESC). “Usamos uma caminhonete e montamos umas sacolinhas com o que recebemos; priorizamos os idosos, gestantes e as crianças, mas nem todo mundo foi atendido”, relata Rogério, sobre a ação que aconteceu no município de Pindoretama.

Também em doação da Mesa Brasil, no último dia 1º, foram entregues 150 litros de leite para a comunidade de Sobral, Sumaré e da Fazenda Joelma. Em 24 de março, foram doadas 32 caixas de banana, beneficiando oito famílias da Comunidade dos Trilhos, em Catuana, no município de Caucaia. O produto ainda foi compartilhado com a Casa de Maria, que atende a mais de 30 crianças. E também com a comunidade cigana do Circo e famílias dos bairros de Granja Portugal, Barroso e Conjunto Ceará, em Fortaleza.

Apelo ao Governo Estadual

O apelo de Rogério é para que o poder público volte sua atenção para o povo cigano. Com 14 coordenações distribuídas em diferentes unidades federativas do Brasil, o Instituto Cigano do Brasil enviou ofícios para o Governo Federal, Estadual, e diversas prefeituras pedindo ajuda durante esse período de pandemia.

Os ciganos são comerciantes e trabalham em comércios pequenos, com vendas ambulantes e de maneira informal; enquanto as mulheres ciganas praticam a leitura das mãos, cartomancia e mendicância. Segundo o Instituto, os valores recebidos são utilizados nas despesas diárias das famílias.

“Estes trabalhadores estão expostos ao vírus e não poderão prover o sustento de suas famílias durante a quarentena”, declara a entidade em um dos ofícios enviados ao governador Camilo Santana. O objetivos das publicações, segundo a entidade, é garantir o auxílio emergencial e o sustento básico do povo cigano.

Serviço

O Instituto Cigano do Brasil recebe doações de alimentos e kits de higiene. Caso o doador queira contribuir com quantia em dinheiro, a entidade recomenda que seja convertido em mantimentos. Para mais informações, basta entrar em contato pelo WhatsApp (88) 99628- 6361.

Com informações do O Povo.