Das riquezas naturais da Amazônia às atrocidades do nazismo alemão: o conhecimento sobre o mundo todo pode estar em uma estante de livros pública, no Terminal de Integração do Antônio Bezerra, em Fortaleza. É lá que, rotineiramente, Raimunda do Carmo, 67, busca livros didáticos e de literatura, para exercitar a interpretação textual e estudar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019, que fará pelo terceiro ano seguido.
“As pessoas deixam livros no terminal, e alguns que me interessam eu pego, trago, leio direitinho e depois devolvo. Mas livros que eu gosto, eu fico”, declara, às risadas. “A professora disse que a gente tem que ler bastante, e eu me sinto muito bem sabendo das coisas”.
A dedicação exemplar não é em vão: após parar os estudos por 36 anos, de 1980 a 2016, Raimunda matriculou-se no Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) Professora Maria Eudes Veras, na periferia da cidade, para realizar o sonho de concluir o ensino médio. Depois de driblar todas as deficiências de aprendizagem, a meta foi alcançada em 2018.
“Deixei de estudar bem nova, quando casei. Com meu filho no braço, ainda voltei, e desisti. Mas me incomodava… Eu queria porque queria terminar meus estudos. Tive muita dificuldade nas aulas, no começo, porque tava com a mentalidade muito debilitada, não gravava nada direito, a redação era difícil… Mas disse que ia terminar, e terminei. Ano passado, recebi o certificado”, relembra, orgulhosa, a aposentada – e estudante.
“Meus irmãos tinham 2º grau, e hoje posso dizer que sei mais do que eles. Sempre me chamavam de analfabeta. Me incomodava não ter terminado os estudos, mas por mim – eu queria porque queria terminar. Só sosseguei quando fiz.”
“As pessoas deixam livros no terminal, e alguns que me interessam eu pego, trago, leio direitinho e depois devolvo. Mas livros que eu gosto, eu fico”, declara, às risadas. “A professora disse que a gente tem que ler bastante, e eu me sinto muito bem sabendo das coisas”.
A dedicação exemplar não é em vão: após parar os estudos por 36 anos, de 1980 a 2016, Raimunda matriculou-se no Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) Professora Maria Eudes Veras, na periferia da cidade, para realizar o sonho de concluir o ensino médio. Depois de driblar todas as deficiências de aprendizagem, a meta foi alcançada em 2018.
“Deixei de estudar bem nova, quando casei. Com meu filho no braço, ainda voltei, e desisti. Mas me incomodava… Eu queria porque queria terminar meus estudos. Tive muita dificuldade nas aulas, no começo, porque tava com a mentalidade muito debilitada, não gravava nada direito, a redação era difícil… Mas disse que ia terminar, e terminei. Ano passado, recebi o certificado”, relembra, orgulhosa, a aposentada – e estudante.
“Meus irmãos tinham 2º grau, e hoje posso dizer que sei mais do que eles. Sempre me chamavam de analfabeta. Me incomodava não ter terminado os estudos, mas por mim – eu queria porque queria terminar. Só sosseguei quando fiz.”
Preparação
Mesmo tendo concluído oficialmente os estudos pelo Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), Raimunda segue frequentando o CEJA – assim como outros 230 cearenses acima de 59 anos, conforme a Secretaria da Educação (Seduc) – para aprimorar redação e português, dois pontos fundamentais para passar no Enem deste ano e cursar Gastronomia ou Nutrição.
“Eu leio falando em uma altura que dê pra eu escutar a minha voz, pra saber que estou lendo correto. Antes eu tinha vergonha de ler, agora não tenho mais. Quando uma coisa incomoda a gente, a gente tem que melhorar.”
Ingressar em uma universidade pública da capital cearense já seria, para ela, uma grande conquista – mas a maior das metas vive mesmo é do outro lado do mundo. “Meu maior sonho é fazer faculdade em Portugal, pra ficar mais perto da minha filha, que mora na Itália”, declara, riscando “impossível” do vocabulário. “A pessoa tem que estudar, porque a coisa mais importante pra um ser humano é o estudo. Com isso, ele consegue tudo.”
Perfis
Raimunda é uma das 363 pessoas de 60 anos ou mais inscritas no Enem no Ceará, o correspondente a 0,1% dos 294.992 candidatos totais no estado. O perfil dos cearenses inscritos foi divulgado na última semana pelo Ministério da Educação (MEC).
A quantidade de idosos cearenses interessados em realizar o principal exame para ingresso no ensino superior tem oscilado, nos últimos 10 anos. Se comparado ao de 2010, quando apenas 193 idosos efetivaram inscrição nas provas em todo o Estado, o número de inscritos da terceira idade na edição do Enem deste ano é 88% maior – por outro lado, é o menor desde 2012, que teve 372 candidatos sexagenários. Os dados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), levantados pelo G1.
Neste ano, o exame nacional chega à 21ª edição, e será realizado novamente em dois domingos consecutivos, dias 3 e 10 de novembro. Dos 119 municípios cearenses que registraram inscrições, cinco se destacam: Fortaleza, com 95.902; Juazeiro do Norte, 11.564; Caucaia, 10.149; Sobral, 8.712; e Maracanaú, com 7.675 inscritos. A maioria dos candidatos cearenses (45%) já concluiu o ensino médio, e 40% estão cursando a última série. Os chamados “treineiros” somam 14,5% das inscrições neste ano.
A maioria dos cearenses inscritos no Enem 2019 tem de 21 a 30 anos de idade: eles somam 65.783 candidatos. Em seguida, vêm estudantes de 17 anos (60.112). Os inscritos de 18 anos aparecem em terceiro lugar (56.023), e os de 19 (33.911), em quarto. Os idosos, naturalmente, somam o menor contingente.
Entre as autodeclarações de cor ou raça, a “parda” é a mais reconhecida entre os inscritos no Estado: são quase 194 mil (65,7% do total). Os “brancos” somam 60,2 mil, pouco mais de 20% dos candidatos; seguidos pelos “pretos”, com 24,4 mil autodeclarados.