Após um tênue alívio causado pelo fim das paralisações de caminhoneiros, mas pressionado pelo avanço das investigações sobre o chamado Decreto dos Portos, o presidente da República, Michel Temer (MDB), pediu orações para ele e seu governo em evento que reuniu pastores da Igreja Assembleia de Deus de todo País, na cidade de Brasília.
Para o emedebista, o acordo com os caminhoneiros só foi possível "graças ao diálogo". Temer participou ontem da Assembleia Geral Extraordinária da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil (Conamad), com o pré-candidato de seu partido à Presidência da República, Henrique Meirelles.
"Encerramos a greve dos caminhoneiros por meio de uma atitude minha que, muitas vezes, tem sido criticada, que é o diálogo", disse o presidente.
"Nós usamos o diálogo e a palavra. Chamamos as lideranças e, conectados com os estados, os governadores, e com a população, conseguimos chegar a um bom termo."
Em seguida, Temer acrescentou que: "Peço que orem por mim e pelo governo. Estarão orando pelo País".
Ao lamentar a morte de um caminhoneiro atingido por uma pedra em Rondônia, o presidente ressaltou que a negociação foi pacífica com a categoria, que deflagrou a paralisação no último dia 21.
"Não houve violência por parte do Estado. Quando o diálogo começou a faltar, chamei as forças federais para pacificar o País. A única morte que houve foi por questões políticas, alguém atirou um tijolo e atingiu um caminhoneiro", disse.
'Dias difíceis'
"Os dias na Presidência não são fáceis", desabafou Temer, durante o mesmo evento religioso.
Ontem, dois dos principais jornais do País informaram que a Polícia Federal (PF) encontrou o que considera ser a primeira prova financeira que liga o coronel João Baptista Lima, amigo do presidente Michel Temer e apontado como seu operador, à empresa Rodrimar, que atua no porto de Santos e é investigada por ter, supostamente, sido favorecida na edição de um decreto presidencial em troca de pagamentos ao emedebista. Segundo a investigação, que tem Temer como principal alvo, o funcionário do coronel Lima, Almir Martins era também o responsável por um contrato que a Rodrimar mantinha com o braço de uma offshore do Uruguai no Brasil, a Eliland. A hipótese da PF é a de que Martins seria um laranja do coronel. Contador da Argeplan, empresa de Lima, ele foi o responsável por assinar as contas da campanha de Temer à deputado federal em 1994.
Ele também atuou como contador nas campanhas de Temer de 1998, 2002 e 2006.
Em depoimento aos investigadores em 18 de maio, Martins disse que se tornou gerente da Eliland para administrar apenas o contrato da Rodrimar. A empresa atua no porto de Santos, conhecido como reduto de influência política de Temer.
Martins foi um dos alvos da Operação Skala, que mirou empresários ligados a Temer a amigos dele, como o coronel Lima, que chegou a ser preso. Na avaliação dos investigadores, há indícios fortes de que o Decreto dos Portos, assinado por Temer no ano passado, beneficiou empresas do porto de Santos, como a Rodrimar, em troca de pagamento ao peemedebista. Há cerca de um mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) atendeu o pedido da PF e prorrogou o tempo de investigação do inquérito dos portos por mais 60 dias.