sábado, 30 de setembro de 2017

Iguatuense foi destaque na classificação do Fortaleza para a Série B

No Pici, Fortaleza e Toinha

A ênfase na palavra alegria não é demasiada. Afinal, foram oito anos esperando que ela voltasse ao vocabulário do Fortaleza. Ou melhor, de Toinha. Antônia Porfírio Lima é uma personagem conhecida no Pici e rica neste acesso do Fortaleza à Série B do Campeonato Brasileiro. Completa 74 anos neste domingo (1º), com 46 deles dedicados ao clube. Entra às 8 horas para sair às 20 horas, em dias de treinos em dois períodos. O Pici é sua casa, o Fortaleza é o seu viver.

– É a minha vida, minha filha. É a minha vida. Acho que se hoje eu sair daqui eu adoeço – confessa, em entrevista à reportagem.

Toinha veio de Iguatu, interior do Ceará, em 1967. Foi morar no bairro Montese. Na cidade, ainda não existia o estádio Castelão, somente o Presidente Vargas. Era lá que ela avistava as bandeiras dos clubes cearenses. E foi de imediato que adotou o Fortaleza como time de coração, as cores vermelho, azul e branco a arrebataram. Por intermédio do jornalista Silvio Carlos, começou a arrecadar dinheiro nas urnas do clube, para cobrar kichutes para meninos do amador. Depois, acumulou vivências, foi cozinheira, lavadeira, telefonista e, há 17 anos, é auxiliar de nutrição. Uma mãezona que não reluta na hora de cobrar. “Tem de ter moral”, enfatiza.

– Só de tirar da cabeça aquilo tudo… Fazia tempo que não subia. Faço de tudo. Na hora que precisa do carão, eu chamo a atenção e tenho moral. Eu já disse às esposas que eu conheço eles mais do que elas, porque passo o dia com eles. Eu já tive muita coisa boa aqui, mas foi esse agora o mais especial. Nos acessos à Série A, tudo foi mais fácil. Mas eu estava oito anos sofrendo. Eu queria saber qual o problema, porque nunca faltou nada. Esse nosso agora não tem estrela, é todo mundo igual – defende.

Toinha tem dois filhos, sendo um adotivo (“é do meu sangue”, ela enfatiza), três netos, um bisneto e uma nora que ela elogia. Ela afirma que os momentos mais tristes dela no clube não foram os rebaixamentos, mas as mortes de dois ídolos: Luizinho das Arábias e Pedro Basílio. Devota de Nossa Senhora de Fátima, ela agradece pela chegada do presidente Luís Eduardo Girão ao clube, antes da Série C deste ano após uma renúncia da diretoria passada.

– Um presidente com fé e coragem enviado por Deus para fazer a gente subir. Ele trouxe muita paz, eu disse que ele trouxe uma paz, tem gente que só pensa em Deus quando está no momento difícil. As frases que ele colocou na parede, todo mundo sentiu a fé, ele é muito unido, trouxe todos os presidentes para o lado dele. Foi o meu mascote, coloquei ele no campo para entrar em campo com o time – ri.

E justifica a ideia de ir de ônibus, e não de avião até Juiz de Fora, onde o Fortaleza perdeu para o Tupi-MG, mas comemorou o acesso.

– O presidente botou tudo na minha mão, falou se eu podia ir de avião. Mas, de ônibus, a gente conhece tudo. Viemos pelo Rio (de Janeiro). Conheci a ponte Rio-Niterói. Conheci as favelas, Deus me livre de morar ali. Ele falou: “Eu queria que você me ajudasse”, e eu falei: “Estou do seu lado com a minha fé” – comenta, referindo-se ao presidente Girão.

Ao fim do jogo em Juiz de Fora, a cena de Toinha atravessando o gramado do estádio na comemoração ficou gravada na mente de torcedores, de jornalistas, de quem assistia ao feito de um time contestado, mas vitorioso. Para o Brasil, a senhora de 73 anos saía dos bastidores para mostrar a força de uma mulher que virou símbolo de um clube, desafiando o machismo. Para ela, um gesto genuíno, de agradecimento, pelos 46 anos de uma rotina que a faz viver com amor.

– Eu não faço isso para me dar audiência. Eu fiz isso de atravessar o gramado de joelhos em outros jogos, no Castelão. Eu tenho ciúme deles, acho que aqui é um local de tabalho, que tem de trabalhar, tem de andar aqui a esposa e a mãe. As histórias daqui têm de ficar aqui, não sair daqui. Tem de ter moral, tem de ser dura. Depois desse resultado, espero que tudo ilumine a gente. Que Deus nos ilumine. Sempre disse aos meninos, Deus deu muita facilidade para a gente, porque quando a gente perdia, os outros também. Fomos com a vantagem depois dos 2 a 0 em casa, e ganhamos, mesmo perdendo lá dentro. Agora, é trabalhar para ir à primeira divisão no próximo ano – desafia.