Uma das propostas da Uniseg é aproximar a Polícia e a comunidade. O projeto faz parte do pacto por "Ceará Pacífico", que é integrado por diversas instituições, que atuam não só na Segurança Pública, mas em diferentes frentes ( Foto: Fabiane de Paula ) |
Em pouco mais de um ano que os bairros Vicente Pinzón, Cais do Porto e Mucuripe, em Fortaleza,receberam a primeira Unidade Integrada de Segurança (Uniseg), o piloto do projeto de policiamento que o Governo deseja expandir para todo o Ceará, os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) - homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte - caíram consideravelmente na região, mas muitos moradores ainda desconhecem a medida e continuam assustados com a violência e com o poder que o crime organizado mantém na área.
Na Uniseg, uma Delegacia 24h da Polícia Civil e quartéis da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros ficam responsáveis pela mesma área, que é menor em relação às Áreas Integradas de Segurança (AISs). O efetivo policial não se restringe ao trabalho ostensivo, como é visto normalmente nas ruas de todo o Estado, mas é treinado para realizar ações comunitárias e de cidadania, junto à população.
De acordo com dados do Ceará Pacífico, os CVLIs caíram 69,7%, na região da Uniseg 1, passando de 76 ocorrências, no acumulado de 2015, para 23, em todo o ano de 2016. Porém, os números do início deste ano de 2017 começam a preocupar as autoridades: até o fim de março, foram dez mortes na região, contra apenas sete em igual período do ano passado.
Já os Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVP) - roubos - têm reduzido neste ano, na região. Nos três primeiros meses de 2017, foram registrados 92 casos, contra 140 em igual período de 2016, representando uma queda de 34,3%. No ano passado, foram registrados pela Polícia 491 roubos, mas os dados do ano anterior (2015), não foram divulgados pelo Governo.
Uma das principais incentivadoras das Unisegs, a vice-governadora do Estado, Izolda Cela, pondera que a diminuição das mortes, no primeiro ano da unidade piloto, não pode ser atribuída exclusivamente ao programa. "É um dado animador. Com isso, eu não quero dizer que estamos em uma situação confortável, mas são sinais promissores de que pode estar acontecendo alguma coisa ali. Eu digo isso porque acho que um projeto dessa natureza precisa ser testado pelo tempo. Inclusive porque um dos objetivos é resgatar o nível de confiança que a comunidade tem na Instituição".
Medo
O primeiro ano de implantação do policiamento comunitário, na região do Vicente Pinzón, não foi suficiente para muitos moradores da região perceberem diferenças ou melhorias nas ações da Segurança Pública.
O que assusta mais a professora Adriana Brandão, que trabalha em uma escola do Vicente Pinzón, são os assaltos recorrentes. Ela tem que andar a pé da parada de ônibus para o trabalho, e vice-versa, em ruas com pouca movimentação durante o dia. "Você não pode andar com celular ou bolsa. Sempre que eu venho para a parada de ônibus, fico perto de um senhor que faz a segurança aqui, por medo", afirma, referindo-se ao vigilante que é pago pela comunidade.
Para uma aposentada moradora do Cais do Porto, que nunca ouviu falar na Uniseg, existe outro poder na região: o crime organizado, que impõe suas próprias regras e é responsável por uma série de homicídios. "Quem rouba aqui 'vai pro saco'. Eu me sinto bem segura porque se alguém roubar é morto. Eu posso viajar, deixar minha casa aberta, que ninguém rouba nada. A Polícia passa direto, mas vai embora e continua igual", revela.
Há quem tenha medo até de falar sobre o assunto. "O negócio aqui é complicado. O cidadão falar é perigoso. O Estado não dá segurança. Todos os bairros são dominados pelos bandidos. Quando acontece alguma coisa, a Polícia aparece, mas se não acontecer não aparece", diz um bombeiro hidráulico morador do Mucuripe, que também nunca ouviu falar na Uniseg.
A única moradora que diz conhecer o projeto implantado pelo Governo na região, entre os entrevistados, a chefe de cozinha Maria Eliete dos Santos disse ter notado uma pequena melhora na segurança, mas reclama do efetivo policial.
"No começo, tinha melhorado, mas apareceu uma nova demanda e os policiais não estão demorando tanto aqui. Era necessário que houvesse mais policiais. É preciso que o Governo se volte mais para a Segurança, porque nós estamos a mercê dele e estamos trancados nas nossas casas", reclamou Eliete Santos.
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