Açude do Cedro, em Quixadá, está seco, desde agosto do ano passado, assim como dezenas de outros reservatórios do Interior ( FOTO: JOSÉ AVELINO NETO ) |
O Ceará ocupa a quarta posição em número de municípios em situação de emergência devido ao agravamento dos efeitos da estiagem. De acordo com o Ministério da Integração Nacional, 808 cidades brasileiras estão com reconhecimento federal vigente por situação de emergência devido ao período de chuvas abaixo da média. O Ceará está com 112, atrás de Paraíba (197), Rio Grande do Norte (153) e Pernambuco (125). Outros 10 estados compõe a lista.
Os números são menores em relação aos da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil, que reconhece atualmente 129, o que representa 70% dos municípios cearenses. Isso acontece porque o reconhecimento federal só é realizado após decreto oficial de emergência ou calamidade pública dos estados ou municípios e envio de solicitação à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) do Ministério da Integração e tem como finalidade o apoio federal para ações emergenciais.
De acordo com o coordenador estadual de Defesa Civil, coronel Cleyton Bezerra, nesse momento, o número de cidades nessas condições não deve aumentar no primeiro semestre porque se espera uma estação chuvosa, mesmo que o prognóstico aponte abaixo da média. A realidade, no entanto, deve se agravar no segundo semestre.
O coronel explica que, apesar da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco estarem à frente, a situação cearense é mais crítica se compararmos a reserva hídrica do Estado, que é apenas 6,6%, segundo a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos do Ceará (Cogehr). "O Ceará tem menos água. Se não chover esse ano, não me pergunte como vai ser 2017 que eu nãos sei lhe responder", preocupa-se.
Para o analista de desenvolvimento rural, meio ambiente e recursos hídricos da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Nicolas Sabre, mesmo se chovesse acima da média, não é possível recuperar uma segurança hídrica em frangalhos com os últimos cinco anos de seca. Ele ressalta que, se comparado a 2012, quando o Estado chegou a ter 178 municípios em situação de emergência, houve uma melhora no cenário.
"O que acontece é que tínhamos um ano de seca a cada década. Agora há uma inversão. A tendência é termos nove anos de seca e um de chuva. E o que nos preocupa é que é preciso mudar o modelo de gestão de água, que é bastante concentrado. Não dá mais para continuar apenas com ações emergenciais. A seca não é emergencial. Precisamos apostar no que só agora o Ceará está fazendo, que são as ações estruturais. Estamos tendo que correr para reverter o prejuízo", criticou o especialista, que reconhece alguns esforços, como as ações de dessalinização da água do mar, a perfuração da bateria de 42 poços no Pecém e os esforços para diminuir as percas de água da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).
Estruturantes
O titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, reconhece a gravidade da situação, mas rejeita a ideia de que o Estado não tem apostado em uma política de recursos hídricos. "Dizer que não investimos em obras estruturantes é desmerecer os esforços de mais de 30 anos", disse, ao citar a construção dos açudes Cedro e Castanhão, o Canal do Trabalhador, o Eixão das Águas e o mais recente Cinturão das Águas, que está em sua primeira fase.
"O que está salvando Fortaleza do colapso é isso. Se não tivéssemos nos preparado, situação estaria muito pior. Diferentemente de outros estados, a gente otimiza o investimento para transformar as ações emergenciais em estruturantes", defende Teixeira, que cita os 800 km de adutoras de montagem rápida, a perfuração de cerca de 3 mil poços profundos, os dessalinizadores, as mais de 300 mil cisternas como ações emergenciais que se tornam estruturantes.
Para Teixeira, se não fossem as ações do Estado, cerca de 60 sedes municipais estariam hoje sendo abastecidas por carros-pipa. "Atualmente, são sete, sem contar com os outros municípios atendidos pelo Exército".
Fonte Diário do Nordeste