quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Michel Temer toma posse e promete 'nova era' para o País

Brasília. Em sessão que durou menos de 10 minutos, o ex-vice-presidente Michel Temer (PMDB) tomou posse, na tarde de ontem, como presidente da República, após a votação que selou, no plenário do Senado, o impeachment da ex-titular do cargo, Dilma Rousseff (PT). No juramento, o novo mandatário afirmou que pretende "cumprir a Constituição, observar as leis e promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e independência do Brasil". Já no discurso de posse, prometeu a construção de uma "nova era" para o País.

Logo após a posse, no fim da tarde, Michel Temer comandou a primeira reunião de sua cúpula ministerial, desta vez não mais na condição de gestão interina, e, à noite, viajou a China para participar de um encontro dos líderes do G-20 em Hangzhou e cumprir agendas bilaterais.

Na posse, o peemedebista não discursou à população. Suas primeiras palavras, como efetivo, ao povo brasileiro vieram em pronunciamento veiculado em cadeia nacional de rádio e TV, à noite, quando defendeu que o momento é de colocar os anseios nacionais do Brasil "à frente dos interesses de grupos".

O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), responsável por presidir a sessão, fez uma breve e protocolar fala ao convocar o peemedebista para a posse, que, segundo ele, vale para o período de 31 de agosto de 2016 a 31 de dezembro de 2018. Logo depois, cumprimentou Temer e disse: "Estamos juntos".

Estavam presentes ao lado de Temer o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, muito aplaudido pelos parlamentares presentes, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de outros deputados e senadores. Ficou a cargo de Beto Mansur, primeiro-secretário da mesa do Congresso, ler o termo de posse do peemedebista.

Respostas

Ao deixar o plenário do Senado, o presidente foi cumprimentado novamente por parlamentares, mas, passado o clima de euforia, é cercado de desconfiança sobre a sua capacidade de articulação para aprovar reformas de cunho econômico que Temer começa o mandato, com a obrigação de entregar medidas amargas que defende para evitar "colapso" nas contas públicas. Não hoje, porém. Por conta da ida a China, ele ficou menos de quatro horas no País como presidente e já transmitiu o cargo ao presidente da Câmara dos Deputados.

Ainda ontem, no entanto, o discurso do presidente, que era cauteloso até a condenação de Dilma, já tomou tom mais duro em torno da aprovação do ajuste fiscal e de reformas que estão por vir. Já na reunião com os ministros, disse que quer ter a compreensão da sociedade em relação às reformas trabalhista e previdenciária. "Não queremos fazer coisa de cima para baixo".

Mais investimento e menos gastos é a mensagem central da política de austeridade e volta do crescimento sustentada pela equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. E, apesar de, em uma comparação com a antecessora, Temer dispor de maior apoio no Congresso, ele não deve ter vida fácil nos dois anos de mandato que ainda lhe restam.

O mandato do peemedebista, para a socióloga política Débora Messenberg, da Universidade de Brasília (UnB), se dará em um País dividido e sem o respaldo de uma eleição. "Serão dois anos de um governo sem respeitabilidade das urnas, com País dividido e com uma crise econômica internacional. E aqueles que o apoiaram, seja no Parlamento, seja no âmbito dos interesses privados, vão pedir a conta", opina.

O cientista político Cristiano Noronha, que é vice-presidente da empresa de análise política Arko Advice, diz entender que Temer navegará em águas mais tranquilas que Dilma, mas nem por isso terá dois anos fáceis pela frente. Para ele, o peemedebista terá, entre seus desafios, que dar andamento ao ajuste fiscal em meio a desdobramentos da Operação Lava-Jato. "O mercado está aceitando Temer por causa dessa agenda (de ajuste). A dúvida é se essas reformas serão aprovadas pelo Congresso Nacional ou se vão sair de lá desidratadas", afirma. Neste caso, sustenta Noronha, "a instabilidade e a insegurança voltam".

Golpe

Em seu primeiro discurso como presidente efetivo, na reunião ministerial, Temer disse ainda, em tom duro, que não tolerará infidelidades na base aliada e não aceitará mais ser chamado de golpista. Em uma resposta a Dilma, que chamou de golpe o desfecho do impeachment, ele disse que a ordem, a partir de agora, é contestar com firmeza e energia o discurso da petista, ressaltando que não houve qualquer ruptura constitucional. "Se falou, nós respondemos", disse.

O peemedebista também chamou de "esdrúxula" a divisão da condenação de Dilma em duas votações. Isso porque a Casa decidiu que a petista tivesse o mandato cassado, mas a manteve habilitada para cargos públicos. Por conta disso, ele afirmou que divisões no Congresso de siglas do governo são "inadmissíveis" e "não serão toleradas".




Fonte Diário do Nordeste