Primogênito de quinze filhos, o repentista popular aprendeu com o pai, agricultor, a escrever as primeiras letras aos 11 anos. Ainda na década de 1960, estudou por três meses em uma escola, mas logo saiu, tornando-se autodidata.
Biblioteca própria
Na sala de estar, quem chega defronta-se logo com os mais diversos exemplares de coleções que não são mais editadas e até livros de editoras extintas estão ali aos olhos de qualquer um que chegue à porta. Colocados em todas as paredes, com pregos e plastificados com sacos transparentes muitas vezes colhidos no lixo, estão lá, livros de vários tipos, tamanhos, gêneros, sejam didáticos, romances, literatura infantil e até mesmo de cursos técnicos.
Apesar da variedade de gênero, o poeta destaca: “todos estão organizados de acordo com a sua categoria”. A ideia de expor os livros na parede surgiu diante da necessidade, conta Erivaldo. “É uma grande quantidade de livros e para guardá-los, precisava de bastante espaço”. Dos nove cômodos da casa, sete estão assim, com as paredes revestidas de letras e títulos.
Tudo pela obra
Uma dezena de cordéis, CDs, DVDs e revistas antigas que contam a história do Ceará e de sua cidade natal, esperam em cima de uma estante desgastada pelo tempo, um lugarzinho na parede. Sem condição financeira para adquirir tamanho acervo, Alencar conta que encontrou boa parte da coleção no lixo: “Eu não tenho vergonha de catar livro no lixo, acho um desperdício a pessoa jogar um livro fora”.
Amante também da música popular, ele também coleciona discos de vinil. “Tenho uns 300 exemplares. Tem de tudo, dos roqueiros do Pink Floyd ao popular de Orlando Dias”, conta orgulhoso.
Mesmo aposentado, Erivaldo continua trabalhando. Para ele, a atividade de vender picolé há anos trouxe “vivência, causos e inspiração para escrever poemas”. As andanças pelos bairros de Acopiara renderam, também, boas histórias. Ele diz que já fez vários negócios “inusitados” para conseguir livros para sua coleção. “Uma vez dei seis picolés a uma pessoa para em troca receber uma obra”, recorda.
Poética da vida
Mesmo sem diploma escolar, tornou-se poeta e escritor. São mais de dois mil poemas, em sua maioria, registrados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Erivaldo possui ainda 65 cordéis e oito livros de poesias publicados durante 17 anos dedicados à escrita literária. A venda de picolé contribuiu bastante para a produção, conforme avalia. “É uma maneira de estar ao ar livre e eu me sinto bem. Ando e vou tendo ideias. O contato com o mundo faz bem”, relata.
Colaboração de André Costa.Via Diário do Nordeste