sábado, 24 de março de 2018

Lula se agarra à popularidade por nova eleição presidencial

Líder na última pesquisa de intenção de voto (CNT/MDA) sobre a corrida ao Palácio do Planalto, com 33,4% das intenções de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de 72 anos, quer superar os diversos obstáculos jurídicos à sua candidatura e voltar ao poder depois da experiência de governar o Brasil por dois mandatos consecutivos (2003-2010) e eleger a sucessora, Dilma Rousseff, deposta em 2016 em um processo de impeachment no Congresso.

Com o sonhado retorno ao cargo de líder do Poder Executivo Federal, o ex-metalúrgico pernambucano pretende virar a página do capítulo mais dramático da história do PT, partido que ajudou a fundar em 1980, quando era um expoente do sindicalismo promovendo greves contra montadoras de veículos no ABC paulista, durante o regime militar (1964-1985).

Com seus principais rostos atingidos pelas denúncias de corrupção expostas pela série de investigações da Operação Lava-jato nos últimos quatro anos, o Partido dos Trabalhadores já sinalizou a intenção de insistir na popularidade do nome de Lula para vencer o pleito de outubro, a despeito do desgaste político que fez a legenda encolher nas últimas eleições municipais, quando perdeu, por exemplo, o comando da maior capital brasileira, São Paulo, entre outras derrotas em seus redutos eleitorais.

Lula terminou 2017 como um político condenado a 9 anos e 6 meses de prisão em 1ª instância, réu em seis processos e denunciado em outros dois e, no final de janeiro deste ano, teve a pena aumentada para 12 anos e 1 mês pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que confirmou a condenação determinada pelo juiz federal Sérgio Moro.

Na próxima segunda-feira (26), o TRF-4 marcou para julgar os recursos finais, chamados de "embargos de declaração" apresentados pelos advogados do ex-presidente.

Liminar

Na última quinta-feira (22), o petista teve duas vitórias parciais no Supremo Tribunal Federal (STF): ao ter seu pedido de habeas corpus acolhido pela Corte (o que significa que será julgado pelo Plenário) e ter um pedido de liminar aceito, garantindo, por consequência, que ele não pode ser preso até o fim do julgamento do recurso.

A próxima sessão está marcada para o dia 4 de abril. O ex-líder sindical responde por crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e obstrução à Justiça, entraves em sua tentativa de buscar um terceiro mandato devido às exigências da Lei da Ficha Limpa, que torna inelegível o postulante condenado em 2ª instância.

Além de aguardar os dois julgamentos, o ex-presidente vive a expectativa de uma eventual mudança do atual entendimento do STF quanto à execução penal, após esgotados todos os recursos em 2ª instância. Enfrentando dificuldades judiciais e apesar de o petista ainda ter índices altos de popularidade, para o sociólogo Antônio Brussi, o contexto social de hoje, diferente daquele observado nas duas eleições vitoriosas do petista, desfavorece Lula. Ele destaca, principalmente, o avanço da extrema-direita como um novo obstáculo para o petista.

Novo contexto

"Todo mundo vê essa ascensão da direita, o pessoal do Sul querendo fazer a independência deles, você tem os ataques sexistas contra aspirações feministas. Ou seja, é um movimento nítido de extrema-direita", analisou o especialista, que é professor da Universidade de Brasília (UnB).

Mesmo em um cenário com Lula como candidato, de acordo com a mais recente pesquisa eleitoral divulgada, o petista deve disputar um acirrado segundo turno com o deputado federal Jair Bolsonaro (em migração para o PSL), militar reformado porta-voz de um discurso tido como conservador e autoritário.

Brussi também vislumbra maiores dificuldades para um eventual governo de Lula, no caso de uma menor renovação das forças políticas no Congresso e continuidade de um PT fragilizado por denúncias.

"Você vai continuar com um parlamento hostil". Nessa configuração, o sociólogo faz prognóstico pessimista.

"Para sua imagem na história, o Lula fazer um governo melancólico, manter o Henrique Meirelles como ministro da Fazenda e coisa desse tipo é pior que ser preso. Realmente seria a pá de cal na imagem pública de um político que poderia ter sido um líder reformista, um líder importante, um Getúlio do século XXI", disse o professor da UnB.