sábado, 17 de maio de 2025

Mãe planta cannabis para tratar filho autista no Ceará e vira ativista do uso medicinal

Foto Davi Rocha
Aos 4 meses de idade, quando a respiração falhou, Allan já soube que viver era desafio. Até os 5 anos, a asma era o cotidiano dele e da mãe, Robervania da Silva, 38, – até que se tornou “simples” diante das graves crises agressivas e de automutilação do pequeno. Hoje, aos 10 anos, “a vida é outra”, transformada pelo uso do óleo de cannabis medicinal.

Robervania é uma das cearenses com habeas corpus (HC) para cultivar a planta em casa, documento obtido em 2022 como medida para proteger a liberdade da cearense e permitir que ela mantenha a plantação de cannabis sem risco de ser abordada por forças de segurança.

Apesar de ter a “permissão” há quase três anos, foi só há menos de uma semana que ela conseguiu montar a estrutura adequada em casa para cultivar, sob um investimento de milhares de reais, obtidos por empréstimo. A tentativa, porém, é sem preço: a de conferir mais qualidade de vida ao filho pequeno.

Allanzinho, como a mãe chama, tem uma síndrome rara, ainda em investigação, e autismo com nível 3 de suporte. Mesmo tão pequeno, chegou a tomar oito medicamentos de forma simultânea para frear as crises – “vivia dormindo”, como relembra Robervania.

“Quando ele acordava, voltava a ficar choroso e muito agressivo, me batia, arrancava meus cabelos. Depois da cannabis, ele passou a não ter mais tantas crises. A gente consegue sair com ele na rua, levar à praia, ao Castelão. Foram grandes melhoras em tudo, muita qualidade de vida”, reforça a mãe.

Ela mesma, aliás, recorre ao uso do óleo e às outras aplicações da planta, para tratar as dores crônicas que sente devido à fibromialgia.

“É outra vida”

Allan usou o óleo de cannabis pela primeira vez em 2020, após “muita pesquisa e estudo” da mãe. Antes disso, as internações hospitalares eram constantes. “Depois do óleo, já são quatro anos sem nenhuma. E ele, sempre não verbal, passou a me chamar de ‘mamãe’. Meu filho agora não fica dopado”, emociona-se.

Acordado, então, Allan vive, o que é além de sobreviver. Segundo a mãe, além da melhora nas manifestações físicas das condições de saúde, o menino passou a se comunicar “através do olhar” e até a engatinhar, “coisas que antes não fazia”.

Apesar das mudanças, o cenário pesou: o alto custo do óleo oriundo da planta levou Robervania, mãe solo, a pedir ajuda a amigos e familiares. “A concentração que ele usa custa R$ 750 e só dá pra 22 dias. Já é metade do benefício que ele recebe”, estima.

Com informações do Diário do Nordeste.