sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Assassinato do pistoleiro cearense ‘Mainha’ segue sem solução após dez anos

Um crime cometido há dez anos que segue sem solução. E este não é um crime qualquer. Trata-se do assassinato de um homem que estava acostumado a estar do outro lado da cena, como assassino, segundo a Polícia. A morte de Idelfonso Maia Cunha, o ‘Mainha’, pistoleiro cearense famoso no Estado e no Brasil na década de 1980, caiu no esquecimento para as autoridades e ainda não resultou na responsabilização dos autores do crime.

A Polícia Civil do Ceará (PCCE) informou, em nota, que “o inquérito policial que investigava a morte de Idelfonso Maia da Cunha (55), ocorrida em 4 de janeiro de 2011, foi concluído e enviado ao Poder Judiciário no ano de 2013”. Questionada se algum suspeito foi indiciado, a Instituição não respondeu.

Procurado desde a última sexta-feira (8), o Ministério Público do Ceará (MPCE) alegou que os promotores de Justiça da Vara de Maranguape – onde aconteceu o crime – não localizaram o inquérito e, por isso, não podiam fornecer informações sobre o caso.

Já o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), através da assessoria de imprensa, afirma que, em dez anos, ainda não recebeu a denúncia do caso e, por isso, não foi gerado um processo criminal.

O sociólogo do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC) e escritor do livro “Crimes por Encomenda”, César Barreira, afirma que não fica surpreso por a morte de ‘Mainha’ não ter sido solucionada. “Continuamos (a sociedade) com a máxima de que ‘bandido bom é bandido morto’. Primeiro, que a elucidação desses crimes é muito baixa no Brasil. Segundo, esses crimes são elucidados quando têm uma forte participação da família. Não deve ter havido”. Confira entrevista do sociólogo sobre a personalidade e a fama de ‘Mainha’ na próxima página.

Crime

Idelfonso Maia foi surpreendido por dois criminosos, no bairro Novo Maranguape, em Maranguape, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), no dia 4 de janeiro de 2011, por volta de 12h. Ele cavalgava desarmado em um burro, quando os assassinos chegaram em um automóvel de cor preta e efetuaram vários disparos contra o homem de 55 anos, que morreu no local. O perito criminal que atendeu a ocorrência detalhou que o corpo de ‘Mainha’ tinha nove perfurações, sendo uma na cabeça e o restante no braço direito, no peito e no abdômen. Enquanto o burro foi atingido por três disparos.

Os levantamentos iniciais da Polícia Civil apontavam para um crime encomendado. Diversos rivais de ‘Mainha’ teriam se reunido em um “consórcio” para juntar dinheiro e pagar um “matador de aluguel”.

José Delano Diógenes, o ‘Delaninho’, figurou como um dos suspeitos de cometer o homicídio, até ser preso por outro crime de morte ocorrido no Ceará, em um shopping em Mossoró, no Rio Grande do Norte, em junho de 2014. Outro suspeito, o pistoleiro Manoel Carneiro Neto, conhecido como ‘Manoel Preto’, chegou a prestar depoimento à Polícia Civil, em 2013, sobre o homicídio em Maranguape, mas negou a autoria – apesar de reconhecer que queria, sim, matar ‘Mainha’ e seria pago para isso, mas não teve a oportunidade. Poucos meses depois, ele foi assassinado em um parque de vaquejada em Tabuleiro do Norte.

‘Rosário’ de mortes

'Mainha' é apontado como autor de um “rosário” de mortes no Ceará. Autoridades falavam à época em até 40 homicídios. O pistoleiro começou a ficar conhecido e ser procurado pela Polícia após o assassinato do então prefeito de Alto Santo, Expedito Leite, em Fortaleza, em 1977.

Outro homicídio contra um prefeito também é atribuído a ‘Mainha’. O ex-gestor de Pereiro, João Terceiro de Sousa, foi morto em uma chacina, junto da esposa Raimunda Nilda, do soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE) João Odeon e do motorista Francisco Maurício de Souza, em Alto Santo, na BR-116, em 1983.

O pistoleiro foi preso apenas em 1988, no Município de Quiterianópolis, após várias incursões de delegados da Polícia Civil ao Interior. Ele foi condenado a mais de 80 anos de prisão, mas ficou preso por apenas 11 anos.

Com informações do Diário do Nordeste.