terça-feira, 20 de novembro de 2018

Tecnologias: Articulação do Semiárido e Instituto Elo Amigo levam experiência de convivência com a seca para El Salvador

As tecnologias sociais de convivência com o Semiárido foram demonstradas em El Salvador, na América Central. Foram 12 dias de muito trabalho, felicidade e emoção. As cisternas de placas e biodigestor foram implantadas em comunidades onde as alternativas para armazenamento de água são escassas.

A proposta surgiu a partir do diálogo da Articulação Semiárido Brasileiro – ASA e FAO, organismo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. A FAO lidera esforços no mundo para a erradicação da fome e de combate à pobreza.

O trabalho começou na comunidade de San Bartollo, município de Guatahiagua, na província, na região oriental, Morazan, que tem características semelhantes ao sertão cearense – são cinco meses de chuva e sete de verão. “As precipitações chegam a 1000 milímetros anuais, mas na época da seca, as pessoas passam por sérias dificuldades, pois não há estratégias de captação e de armazenamento de água das chuvas, e acabam passando por séries dificuldades”, explica Marcos Jacinto, coordenador executivo do Instituto Elo Amigo, que trabalha em parceria com a ASA.

“O povo é amoroso e simpático”, pontuou Jacinto. “As características climáticas são parecidas com as nossas”.

Ao apresentar a cisterna de placa e o biodigestor, a população ficou emocionada, pois não conhecia as tecnologias sociais de convivência com a seca. “Por ser uma novidade para eles, todos ficaram tocados em relação ao impacto e o papel da tecnologia em poder garantir a segurança hídrica diante de todas as dificuldades encontradas”, observou Jacinto.

Trabalho

As construções envolveram cerca de 10 moradores, entre populares e pedreiros locais e a ideia era envolver essas pessoas para que elas pudessem aprender a construir suas próprias tecnologias. “Durante os doze dias que estivemos por lá, nós construímos uma cisterna de placa e um biodigestor. Eles passaram por todo o processo de construção, ficando capacitadas”, frisou Jacinto.

Para se ter uma ideia, em El Salvador, uma caixa d’água de 10.000 litros custa 2.200 dólares e para construir a cisterna de placas de 16.000 litros, o custo é de 706 dólares, uma economia de 1.494 dólares. “Essa comparação foi muito impactante, pois eles não acreditavam que seria possível construir uma cisterna com tão pouco recurso”, explicou Marcos Jacinto.

Ao final das construções, uma das moradoras, ao tentar se pronunciar, se emocionou, pois no período de verão, as pessoas querem lavar as mãos, escovar os dentes e não há água, pelo abusivo preço cobrado. “Para se ter uma ideia, 1000 litros de água custa cerca de 5 dólares, e as famílias pobres não têm esse dinheiro”, relatou Jacinto.

Vontade

Apesar das dificuldades que essas pessoas passam todos os dias, uma das maiores lições que Marcos Jacinto trouxe foi a alegria, o trabalho e a força de vontade do povo de El Salvador. “Eles são organizados e se juntam para fazer praticamente tudo. Para trabalhar, para festejar, produzir e esse foi um dos grandes aprendizados que tive, pois apesar das dificuldades, eles resistem com alegria e com a certeza de que com o trabalho coletivo é possível colher bons frutos. Eles precisam de programas e de políticas que de fato possam incentivar e garantir que elas tenham mais acesso à água, produção e direitos básicos para que elas consigam ser mais felizes ainda, finaliza Jacinto.

Além de Marcos Jacinto, participaram do intercâmbio outras três pessoas: Hugo de Lima (jornalista AsaCom de Pernambuco), Josivan da Silva (cisterneiro e pedreiro do Rio Grande do Norte) e Fábio da Silva (cisterneiro e construtor de biodigestor, de Sergipe).