quinta-feira, 21 de junho de 2018

Projétil que atingiu e matou criança em Fortaleza partiu de arma de PM

O resultado de um laudo pericial deve fazer com que o número de vítimas assassinadas durante intervenções da Polícia, no primeiro semestre deste ano, aumente. Após quase dois meses da morte do menino José Isaac Santiago da Silva, 6, o exame de comparação balística mostrou que o projétil que atingiu a criança partiu de uma arma utilizada pela Polícia Militar do Estado do Ceará.

O documento recebido por Milena Santiago, mãe da vítima mostrou que o projétil retirado do corpo do garoto é de calibre compatível ao .40, arma de uso restrito usada pela PMCE. Ontem, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) informou ter instaurado procedimento disciplinar para apuração na seara administrativa referente ao caso e que o procedimento se encontra na fase de diligências. Já a Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) informou, por meio da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), que o inquérito acerca da morte da criança foi finalizado e já enviado à Justiça junto aos resultados dos laudos. A identificação do servidor envolvido não foi divulgada.

Caso

O homicídio de José Isaac aconteceu no dia 25 de abril deste ano, instantes após um confronto entre criminosos e policiais no bairro Bom Jardim. Outras duas pessoas (um PM e uma mulher de 55 anos) foram alvejadas, mas sobreviveram. Isaac chegou a ser encaminhado até uma unidade de saúde na Parangaba, mas morreu ainda quando recebia atendimento. Na época, a SSPDS divulgou que a operação foi desencadeada devido a um outro confronto, este, na Comunidade do Urubu, e que resultou em duas prisões e uma arma apreendida. Como defesa, um dos PMs que participou da segunda ocorrência disse que o menino foi feito de "escudo humano" pela sua própria tia.

A morte da criança causou comoção e revolta aos moradores do Bom Jardim. Em 27 de abril deste ano, um grupo ateou fogo em pneus e interditou a Rua Bom Jesus para chamar a atenção das autoridades e pedir por Justiça pelo crime.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, a mãe da criança, negou que sua irmã tenha utilizado o menino como escudo humano. De acordo com a dona de casa, só o despreparo da Polícia justifica a morte do filho. "Eles inventaram isso de escudo para poder incriminar minha irmã. Viram a criança, atiraram e depois jogaram a culpa na tia do meu menino", disse. Conforme a mãe, o trato das autoridades no dia da ocorrência foi o que mais espantou toda a sua família. Milena diz que os militares não socorreram Isaac. "Eles falaram na minha frente: "antes ele do que nós". Eu me pergunto se eles não têm consciência do que fizeram. Tiraram a vida de uma criança".

A mãe da vítima também afirmou que, mesmo após quase dois meses do crime, ela nunca foi chamada para prestar depoimento. Nesse meio tempo, Milena optou por procurar a Defensoria Pública para dar entrada em um pedido de indenização contra o Estado.

"Minha família não é mais a mesma desde esse dia. O meu filho de cinco anos estava perto do Isaac quando viu tudo que aconteceu com o irmão. Nada vai trazer ele de volta, mas eu quero Justiça. O secretário André Costa diz que está tudo sob controle, mas a violência também vem desses policiais despreparados que o governador coloca nas ruas. Espero pela Justiça de Deus e a dos homens, porque essa morte não foi acidental", relatou a mulher.

Com informações do Diário do Nordeste.