segunda-feira, 18 de março de 2019

Ministério Público do Ceará investiga ameaças a duas escolas

A cautela tem pautado a investigação preliminar em torno de duas denúncias de supostos planos de ataques a duas escolas públicas no Ceará. Tão logo se confirmou a existência de um boletim de ocorrência feito em Fortaleza e a troca de mensagens entre um jovem e um adolescente no município de Frecheirinha, na região Norte do Estado, uma promotora e um promotor de Justiça, um delegado, policiais militares e pelo menos um deputado estadual trataram cercar os indícios de ameaças e agiram preventivamente.

A primeira preocupação, de acordo com uma fonte ouvida pelo O POVO que pediu para não ser identificada, era não gerar pânico entre estudantes, familiares e funcionários de escolas, tanto públicas quanto privadas. E nem contribuir com um suposto efeito dominó a partir da tragédia de Suzano, em São Paulo. Na última terça-feira, um jovem e um adolescente mataram sete alunos e duas funcionárias da escola estadual Professor Raul Brasil e, depois, se suicidaram. Antes, um deles já havia matado o tio em uma concessionária de veículos.

Em Frecheirinha, uma promotora de Justiça recebeu a informação de que dois homens, por coincidência um jovem de 25 anos e um adolescente, estariam combinando pelo Facebook um atentado a uma escola da rede estadual. A conversa acabou sendo copiada por outros internautas e enviada para autoridades do município.

A princípio, os diálogos nas redes sociais poderiam ser apenas “brincadeira de mau gosto” entre um estudante (o adolescente) e o adulto – que é ex-aluno da escola provável alvo da ação. Mas, para se antecipar a possibilidade de tragédia, a promotora de Justiça Emmanuela Braga, da comarca de Frecheirinha, decidiu se comunicar com o promotor André Clark – diretor do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público (Caocrim), em Fortaleza.

Na capital, decidiram pedir à Justiça a autorização para se cumprirem dois mandados de busca e apreensão na casa dos suspeitos. Além disso, o Caocrim notificou os pais do ex-aluno e do estudante a comparecerem ao Ministério Público.

Os mandados foram liberados e os dois rapazes levados para delegacia do município. Surpresos, os pais dos dois acompanharam a busca e apreensão. O jovem foi preso por acusação de planejamento do ataque, mas a Justiça mandou soltá-lo no final da tarde de ontem. Notícia que não agradou a promotora de justiça. O adolescente foi liberado por falta de evidências da intenção de fazer parte do atentado, mas será acompanhado segundo O POVO apurou.

A promotora Emmanuela Braga pedirá, esta semana, que a Secretaria da Saúde do Município e equipamentos que trabalham com acolhimento de crianças e adolescentes façam o acompanhamento psicológico e social dos dois suspeitos.

A ideia também, reforçou outra fonte ouvida pelo O POVO, além de investigar criminalmente o que poderia dar numa catástrofe, é desmotivar qualquer possibilidade de atitudes que levem ao que aconteceu em Suzano. E, ainda, estudar estratégias para que as escolas reforcem ações para evitar a possibilidades de violência e bullying no ambiente escolar.

Além da investigação de Frecheirinha, outro episódio foi registrado no Ceará. Em Fortaleza, um boletim de ocorrência a que O POVO teve acesso, dá conta de que alguém, com um perfil anônimo no Facebook, ameaça promover uma chacina numa escola pública estadual. A denúncia chegou ao diretor do colégio por estudantes e pais de alunos. O Caocrim também acompanhará os desdobramentos da apuração.

Os dois casos, de Freicherinha e Fortaleza, não têm relação um com o outro.

Jovem diz que diálogos eram um “teste social”

O jovem que enviou as mensagens planejando um suposto ataque a uma escola pública em Frecheirinha (a 386 km de Fortaleza), afirmou que a história não passava de um “teste social”. Em um áudio de WhatsApp, a que O POVO teve acesso, o ex-estudante da escola pede a um amigo que o ajude a desfazer a suposta confusão iniciada por ele no Facebook.

“Mano, se tu puder me fazer um favor… Pegar o contato de um WhatsApp de alguém da Polícia pra eu explicar isso… Esse pessoal querem fazer uma baderna monstra pra nada. Eu não fiz nada, era apenas um teste social”. Segundo um policial, ouvido pelo O POVO, teria sido um mal-entendido e alguém acabou separando trechos em que o ex e um atual aluno da escola “estavam falando besteira nas redes sociais”.

“Velho, não sei nem o que falar que tipo de pessoas são essas aí (quem passou as denúncias para a Polícia e para o Ministério Público). Eu fiz, não estou mais fazendo, um teste social. Pra ver o que as pessoas estão fazendo. Porque todo mundo tá julgando o menino lá (um dos assassinos da escola em São Paulo)… Falando: Desgraçado! Que monstros! Porque fizeram aquilo na escola”, diz o áudio.

De acordo com o jovem, ao escrever no Facebook que tinha um plano para matar estudantes de um colégio em Frecheirinha, ele queria saber “quantas pessoas sofrem bullying na escola” e qual seria a reação diante de uma suposta ameaça.

“Não tem nada a ver com governo que tá liberando arma, com Bolsonaro. Não tem nada a ver com jogo (as causas do atentado em São Paulo). Eu conversei com o (adolescente) e postei nos stories. Queria ver o que esse pessoal ia falar. Se iam levar na brincadeira; se iam levar a sério; se vinham falar comigo; se iam julgar ou me ajudar…”.

Para o rapaz de 25 anos, que foi alvo de prisão após as postagens e denúncias feita por internautas, os dois autores da tragédia em Suzano (SP) mataram as oito pessoas no ambiente escolar porque tinham problemas psicológicos e precisavam de ajuda, não de mais problemas. “Só fiz um teste social, nada na maldade. Até já retirei dos meus status. Disse que era um teste, mas ninguém se ligou nisso. Todo mundo printou a parte que eu falava de atentado. O pessoal é hipócrita, não tem atentado nem porra nenhuma, nada a ver”, se justificou o jovem que foi preso e, no final da tarde de ontem, libertado pela Justiça.