domingo, 31 de janeiro de 2016

Grávidas com zika fazem aborto sem confirmação de microcefalia

Grávidas com diagnóstico de infecção pelo vírus da zika estão recorrendo ao aborto clandestino antes mesmo da confirmação se o feto tem ou não microcefalia.

Os preços do procedimento em clínicas particulares variam entre R$ 5.000 e R$ 15 mil, dependendo da estrutura e do estágio da gestação.

Três médicos relataram à Folha casos de mulheres que já tomaram essa decisão. Todas são casadas, têm educação de nível superior, boas condições financeiras e tinham planejado a gravidez, mas se desesperaram com a possibilidade de a criança desenvolver a má-formação.

As gestações estavam entre a sexta e oitava semana e foram interrompidas com o misoprostol (Citotec). O medicamento é obtido no mercado ilegal, já que sua disponibilização é limitada a hospitais. A venda é proibida nas farmácias desde 1998.

Segundo o infectologista Artur Timerman, duas grávidas de São Paulo o procuraram nas últimas semanas com sintomas de zika. 

A doença foi confirmada com uma técnica chamada PCR, que pesquisa diretamente no sangue da paciente a presença de material genético do vírus da zika.

"Elas me perguntaram se havia risco de o bebê desenvolver microcefalia. Eu disse que sim, mas não saberia estimar quanto [seria o risco]. A decisão [do aborto] foi delas. Em nenhum momento eu disse faça ou não faça", disse Timerman. Ele afirmou ter sabido depois que as pacientes tinham feito o aborto com outros profissionais.

A ginecologista Ana (prefere não dar o sobrenome), do Nordeste do país, relata situação parecida: três pacientes, após confirmação do zika, decidiram abortar. "Não quiseram esperar para ver."

Em novembro, o infectologista Roberto Badaró, da Bahia, relatou à reportagem que soube de "abortos preventivos" após detecção do vírus.

No início do mês, a Folha mostrou casos de aborto após confirmada a microcefalia, que costuma ser diagnosticada por volta da 28ª semana de gravidez.

Nessas situações, devido ao estágio da gestação, o procedimento é complexo: aplica-se uma injeção de cloreto de potássio no coração do feto e, então, induz-se o parto.

A médica Fátima Oliveira soube de três mulheres que abortaram após o diagnóstico. Uma, do Mato Grosso, foi a uma clínica de São Paulo. "Quem pode aborta com segurança", afirma.




Fonte Folha Online